Por Ortenca Aliaj, Valor — Financial Times, de Nova York
12/07/2022 12h44 Atualizado há 20 horas
Investidores ativistas travaram um número recorde de campanhas contra empresas europeias no primeiro semestre, com as britânicas mostrando-se especialmente vulneráveis a acionistas insatisfeitos.
Durante o período, foram registradas 35 campanhas ativistas cujo alvo eram empresas na Europa, 67% a mais do que no mesmo período de 2021, segundo dados reunidos pelo banco de investimento Lazard. Cerca de 35% do total era de empresas britânicas.
“Investidores ativistas adoram histórias de valor [acionário inexplorado] e a Europa tem operado com valores relativamente baixos”, disse Mary Ann Deignan, diretora-gerente e chefe de assessoria de mercados de capital no Lazard, que inclui as campanhas ativistas na conta apenas depois que elas se tornam públicas. “Mas também acho que estamos vendo uma tendência de longo prazo, de aumento na atividade na Europa.”
Os ativistas têm direcionado as miras para muitas grandes empresas britânicas, como a fabricante de bens de consumo Unilever, que em maio incluiu Nelson Peltz em seu conselho de administração depois de a firma dele, a Trian Partners, ter comprado participação de 1,5% na companhia.
A petrolífera Shell foi alvo de uma campanha da londrina Odey Asset Management, que conclamou a empresa a desistir de recorrer do veredicto histórico de um tribunal holandês contra sua estratégia para o clima.
A Shell também enfrenta a pressão do fundo hedge americano Third Point, que defende seu desmembramento em duas empresas – uma com as operações tradicionais, dos setores químico e petrolífero, e outra que seria um braço “verde”, com foco no futuro.
O HSBC é outro nome que se depara com pedidos por sua cisão, com o maior acionista do banco, a firma chinesa de seguros Ping An, querendo separar as operações na Ásia das ocidentais, depois de anos de baixo retorno para os acionistas.
A França, onde ocorreram 20% dessas campanhas na Europa durante o primeiro semestre, também se torna um destino cada vez mais popular para os ativistas, segundo o Lazard. A proporção de campanhas ativistas na França em relação ao total europeu triplicou nos últimos cinco anos, de acordo com o banco de investimento.
Enquanto o número de campanhas ativistas na Europa chegava a um recorde no segundo trimestre, diminuía o de empresas dos Estados Unidos que foram alvo. Foram registradas 22 novas campanhas contra empresas americanas entre abril e junho, 50% a menos do que no primeiro trimestre, segundo o Lazard.
“É uma história de dois mercados [contrastantes]”, disse Deignan. “Os EUA estavam extremamente fortes no primeiro trimestre e a Europa, nem tanto. Agora, vimos uma reversão dessa tendência.”
Ainda assim, Deignan acredita que será necessário mais tempo para determinar se os números são prenúncio de alguma mudança de longo prazo.
Mesmo com o esfriamento do movimento de fusões e aquisições, muitos ativistas ainda estão empenhados em obrigar executivos a vender as empresas que administram, seja integralmente ou em parte.
Neste ano, o número de campanhas cujo objetivo é obrigar uma companhia a aceitar sua venda encaminha-se a superar o total observado em 2021. Ativistas também vêm pressionando as equipes executivas a adotar novas estratégias de negócios e a melhorar a alocação de capital, dada a piora no cenário econômico.
Fonte: FT / Valor Econômico

