As duas companhias já se sentaram para conversar mais de uma vez sobre a possível transação nos últimos meses, apurou o Valor; Viveo nega negociações
Por Fernanda Guimarães e Mônica Scaramuzzo, Valor — São Paulo
A distribuidora de produtos médico-hospitalares Viveo lançou nesta segunda-feira (24) uma oferta subsequente de ações (“follow-on”) na qual pode captar R$ 800 milhões, na tranche primária, podendo chegar a R$ 1,4 bilhão, considerando a secundária, em que os atuais acionistas vendem suas ações. Investidores que acompanham essa operação avaliam que os recursos podem ser usados em uma fusão com a concorrente Elfa Medicamentos, apurou o Valor.
Uma eventual fusão com a Elfa, que tem o fundo de private equity Pátria e mais recentemente a Lumina no quadro de acionistas, é algo já esperado pelo mercado, uma vez que as duas companhias já sentaram para conversar mais de uma vez sobre a possível transação nos últimos meses, segundo fontes a par do assunto. A Lumina, de Daniel Goldberg, financiou o último aporte da Elfa no início de julho por meio de uma holding do Pátria.
Em sua capitalização, a Viveo pretende usar uma boa parte dos recursos para expansão — e fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) estão na mesa, mas não há um acordo para ser fechado neste momento.
Assim que a oferta se tornou pública, na sexta-feira, o nome da Elfa foi o primeiro na roda de apostas, dizem fontes. A investidores, a Viveo falou que poderia unir ativos com a concorrente, segundo uma das fontes ouvidas pelo Valor.
Procurada, a Viveo nega qualquer transação em curso. “A Viveo esclarece que a informação não procede e ressalta que não existe, em curso, nenhuma alternativa de fusão com a empresa citada”. A companhia ressalta que está em período de silêncio por conta da oferta e que não poderá se manifestar.
As conversas entre Viveo, que tem o fundo DNA Capital entre acionistas, e fundo Pátria têm ocorrido nos últimos meses, apurou o Valor. O Pátria tem feito aportes na Elfa para depois buscar seu desinvestimento, por meio de uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) ou venda a um investidor estratégico. O DNA tem entre seus cotistas a família Bueno, dono da companhia do setor de saúde Dasa.
“Esse é um ‘deal’ que sempre pode acontecer, mas depende da dinâmica de preço. Viveo é bastante disciplinada. Mas este ‘deal’ já esteve na mesa várias vezes”, disse uma fonte próxima da empresa.
A Elfa tem se movimentado. Depois de passar o chapéu no mercado, no início deste mês, a Lumina, gestora de Daniel Goldberg, fez um aporte de US$ 130 milhões na Elfa Medicamentos. Foi assim que se tornou um dos acionistas da distribuidora de medicamentos.
O financiamento da Lumina na Elfa é de longo prazo, apurou o Valor. A gestora de Goldberg poderá sair aos poucos do negócio por meio de um IPO, uma fusão com outra empresa listada ou venda privada do grupo Elfa.
Tanto Elfa como Viveo têm crescido por meio de aquisições nos últimos anos. As duas companhias estão entre as maiores distribuidoras de medicamentos do país, ao lado da Oncoprod. Um negócio entre as duas empresas terá de passar por aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Não será uma aprovação simples”, disse uma fonte.
No entanto, como a janela de IPOs ainda não foi aberta, uma combinação dos negócios com uma empresa de capital aberto pode ser uma porta de saída, aos poucos, para o Pátria. E se criaria uma empresa gigante de distribuição de medicamentos.
A questão pode ser o “valuation”. A Viveo, de capital aberto, vale na bolsa de valores cerca de R$ 6 bilhões. Sua ação é negociada por preço equivalente a 12 vezes seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), conforme relatório do JP Morgan. Já a Elfa, observa o relatório do banco, está avaliada em 16 vezes o Ebitda.
A própria Elfa tentou abrir capital na B3, mas teve os planos frustrados com o aumento da volatilidade e fechamento das torneiras de liquidez com a alta dos juros em todo o mundo. A Viveo foi uma das últimas empresas a aproveitar o empoçamento de liquidez no Brasil com a Selic baixíssima, com uma oferta que movimentou R$ 1,8 bilhão em agosto de 2021.
No “follow-on” lançado ontem, a Viveo também fará uma tranche secundária, caso haja demanda na oferta, por meio do lote adicional (“hot issue”), no qual o fundo Genoma, da DNA Capital, é vendedor. A família Bueno embolsaria esse dinheiro.
Esse lote extra pode ser acrescido em até 76,30% da oferta principal. Somente assim é que o “follow-on” pode alcançar, se ambas tranches forem vendidas integralmente, R$ 1,4 bilhão. A precificação da ação está marcada para a próxima semana, em de agosto.
Procurados, Elfa, Lumina e Pátria não se manifestaram.
Fonte: Valor Econômico