Investidores europeus e asiáticos injetaram somas recordes em fundos de ações globais que excluem o mercado dos Estados Unidos após o retorno de Donald Trump à Casa Branca. Eles aplicaram US$ 2,5 bilhões em fundos mútuos e ETFs (fundos negociados em bolsas de valores) globais que excluem os EUA entre o começo de dezembro e o fim de abril, segundo dados da Morningstar.
Os aportes – mais de US$ 2,1 bilhões somente nos últimos três meses – incluem o maior volume mensal já registrado e marcam uma reversão após três anos de retiradas líquidas.
O aumento no interesse levou ao lançamento de vários fundos, com gestores como BlackRock, a alemã DWS e a Amundi da França entre as que listaram novos ETFs.
O mercado não esperava que as tarifas fossem da forma e extensão como foram”
“Há um ponto de interrogação sobre o papel dos EUA na economia mundial e temos visto uma inversão nos fluxos, temos observado uma saída consistente de recursos pela primeira vez em muitos anos”, diz Kenneth Lamont, principal analista de pesquisas da Morningstar.
“Os EUA sempre foram o destino preferencial do capital global, mas muitos investidores agora estão questionando a posição de destaque do país nos mercados globais como opção de investimento.”
Os fundos de ações globais que excluem ações dos EUA (os chamados ex-US funds) estavam fora do radar há anos, em meio a uma forte valorização das ações em Wall Street na maior parte da última década – movimento que atraiu investidores estrangeiros.
Os investidores sacaram um total líquido de US$ 2,5 bilhões desses fundos entre 2022 e 2024. Nesse período, o índice MSCI World ex-USA subiu apenas 7%, comparado a uma alta de 25% do índice Standard & Poor’s 500.
Entretanto, esses fundos recuperaram os ativos perdidos em apenas cinco meses, à medida que os investidores começaram a temer que as tarifas abrangentes anunciadas por Trump – que foi eleito pela segunda vez em novembro e se tornou presidente novamente em janeiro – possam causar mais danos aos EUA do que a outros grandes mercados.
“Muitas das decisões políticas tomadas foram uma surpresa para o mercado”, diz Lamont. “Basicamente, o mercado não esperava que as tarifas fossem da forma e extensão como foram.”
Lamont diz que parte dos aportes nos ex-US funds se deve a um “rebalanceamento patriótico” por parte de investidores europeus, e não necessariamente aos altos níveis de valorização das ações americanas. “Há, por parte de alguns na Europa, a sensação de que não querem investir nos EUA”, afirma ele, apontando para as “ramificações de algumas das ações políticas” tomadas por Washington.
No entanto, Benoit Sorel, chefe global de ETFs, indexação e smart beta da Amundi, que lançou um ETF que exclui os EUA em setembro, antes da reeleição de Trump, diz que o interesse nesses fundos tem sido movido menos por questões políticas e mais pela necessidade de alguns investidores de reequilibrar suas carteiras.
Sorel destaca que uma grande parte do dinheiro que fluiu para os fundos europeus no ano passado foi aplicada em apenas dois índices – o S&P 500 e o MSCI World, dos quais os EUA representam mais de 70%.
Como resultado, Sorel acredita que alguns investidores europeus estão buscando diversificar ou rebalancear suas carteiras com uma maior exposição fora dos EUA, especialmente diante da forte concentração nas chamadas “Sete Magníficas” do setor de tecnologia – algumas das quais, como a Tesla e a Nvidia, passaram por meses turbulentos recentemente.
Fonte: Valor Econômico