Por Adriana Cotias, Valor — São Paulo
01/09/2023 22h46 Atualizado há 2 dias
O Brasil é o país do juro real alto, então o investidor pode ficar com a bolsa, mas não deve casar, brincou André Jakurski, sócio-fundador da JGP. No longo prazo, a tendência é o CDI ganhar. “Tem que ter habilidade e coragem para comprar bolsa quando tudo está mal e vender quando está bem”, comentou ao participar de painel da Expert XP 2023 ao lado de Felipe Guerra, sócio-fundador e CIO da Legacy Capital, e de Carlos Woelz, sócio-fundador da Kapitalo.
Jakurski citou que, de 1994 para cá, o Ibovespa subiu o equivalente a 43% do CDI. “É uma guerra inglória lutar contra o juro real a 5%, 6%, 7% ao ano, é um soco no fígado todo dia”, afirmou. “Precisa ter capacidade emocional grande de escolher os momentos e evitar fazer justiça com as próprias mãos – achar que vai selecionar as melhores empresas sem ser profissional e que vai performar melhor que o índice. Ou você entrega seu dinheiro nas mãos de um profissional ou compra o índice mesmo sabendo que no longo prazo a tendência é perder do CDI.”
O futuro pode mudar, houve momentos em que o CDI rodou abaixo da inflação, continuou o gestor e daí as ações funcionam como uma forma de defesa. “Se Warren Buffet tivesse nascido no Brasil, ele não teria ficado famoso”, disse. “Tem que fazer a mensuração dos números de forma não emocional e tomar cuidado. A bolsa tem coisa barata.”
Ele citou que Petrobras neste ano, incluindo dividendos, teve valorização de mais de 60%, em comparação a 5% do Ibovespa, e que há ações fantásticas, enquanto o setor de varejo foi destruído. “Petrobras ainda é uma boa opção, mas tem algumas variáveis para refletir. Subiu muito, então o retorno para frente não vai ser o mesmo que nos últimos oito meses.”
Um dos pontos de atenção é qual vai ser a política de dividendos que o presidente Lula mostrou intenção de mudar, mas o estatuto da petrolífera é bem feito e o Tribunal de Contas da União (TCU) é uma via de fiscalização. “Até que o governo tome coragem para propor uma mudança estatutária, a empresa vai pagar bons dividendos e o governo depende dos dividendos para fechar as contas.”
Segundo Jakurski, o retorno em dividendos projetado para a estatal fica entre 10% e 20% e se o yield ficar na ponta mais alta é uma baita ajuda para o déficit fiscal. “E ninguém queria Petrobras no início do ano porque Lula ia destruir a empresa.”
Para Woelz, chegou a hora da verdade para o Brasil. No primeiro semestre, ele disse ter sido muito pessimista com a tendência de desaceleração global reduzindo o valor das exportações brasileiras. “Mas os ativos estavam muito baratos, e eu não vendo coisa barata sem trigger [gatilho].”
O gestor afirmou que ficou comprado em papéis que considerava atrativos como Suzano, com ganhos melhores do que se esperava. Ele acha provável um cenário de desaceleração global mais forte. Um pouso suave seria uma saída melhor para o Brasil.
Fonte: Valor Econômico

