A receita das empresas brasileiras investidas por fundos de private equity cresceu mais que o dobro das americanas nos últimos anos, descoladas do que aconteceu com a atividade econômica dos dois países no mesmo período.
Enquanto aqui a expansão na receita dessas companhias foi de 19% ao ano entre 2015 e 2023, nos Estados Unidos a média anual foi de apenas 9%, contrastando com o PIB dos respectivos países, que cresceu 0,6% e 2,5% respectivamente, mostra estudo da Spectra.
“Economias que vão bem não necessariamente geram bons retornos para os investidores”, define Rafael Bassani, sócio da Spectra, ponderando que commodities e bancos têm peso relevante no PIB dos países e costumam crescer em passos mais lentos. É diferente do que ocorre com setores mais demandantes de private equity como consumo e serviços.
Por outro lado, o retorno dos investimentos nessas empresas foi maior nos EUA do que aqui nos últimos 15 anos 17,4% contra 8,3% em dólar (16,9% em reais). Bassani ressalta que o Brasil está melhor do que outros da América Latina, mas o estrangeiro pede um prêmio de risco em torno de 10% para entrar aqui devido à volatilidade do câmbio.
“Se lá fora o retorno esperado é de cerca de 15%, aqui tem que ser de 25%”, diz o gestor, que vê o efeito cambial diluído em prazos mais longos. “O grande erro do investidor de private equity é tentar fazer market timing.”
O diferencial de juros entre os países e a política de quantitative easing, que jogou grande liquidez nos mercados com a compra de títulos por parte do banco central americano, também explicam um desconto maior no valuation das empresas brasileira comparativamente. Enquanto o múltiplo das transações no mercado americano saltou de oito vezes o Ebitda em 2008 para 14,6 vezes em 2020. No Brasil, caiu, 10 para 8,7 vezes no período.
Esse resultado acompanhou o movimento das empresas na bolsa, cujo múltiplo recuou de nove vezes em 2008 para cinco vezes em 2025 no Brasil, enquanto nos Estados Unidos ele avançou de nove vezes para 17 vezes no período, impulsionado pelas companhias de tecnologia.
“A atual escassez de capital no mercado privado tem gerado excelentes oportunidades de aquisição de empresas com alto crescimento a múltiplos de entrada atraentes”, disse Bassani.
Ele acredita que essa tendência deve mudar nos próximos anos, dado o cenário global de juros mais elevados. “Nesse novo contexto, o crescimento de receita volta a ganhar protagonismo como principal motor de retorno em private equity.”
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Fonte: Valor Econômico

