Pela 1.ª vez, IA auxilia a reduzir alternativas; medicamento está em fase experimental e passará por testes antes de ser ofertado
- O Estado de S. Paulo.
- 29 May 2023
- GIOVANNA CASTRO
Cientistas da Universidade McMaster, do Canadá, descobriram um novo antibiótico capaz de eliminar uma espécie mortal de superbactéria, e com a ajuda de inteligência artificial. O medicamento experimental, chamado “abaucin”, passará agora por testes de segurança antes de ser utilizado em pessoas. Essa é a primeira prova de que a IA pode ser utilizada no desenvolvimento rápido de medicamentos, afirmam os pesquisadores.
As superbactérias são um desafio para a medicina. São evoluções de espécies que desenvolvem resistência aos antibióticos comumente utilizados e por isso exigem estudos constantes para criação de novos medicamentos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é de que mais de 1 milhão de pessoas morrem todos os anos por infecções que resistem ao tratamento com antibióticos. Nesse estudo, os pesquisadores focaram na espécie Acinetobacter baumannii, descrita pela OMS como uma das três superbactérias mais “críticas”. Ela é capaz de captar o DNA de outras espécies de bactérias no ambiente, incluindo genes de resistência.
Jonathan Stokes, um dos responsáveis pelo estudo, descreveu a superbactéria como “inimigo público número um”. Isso porque, além de ser resistente a quase todos os antibióticos, é muito comum em hospitais e casas de repouso. Geralmente, sobrevive em superfícies e equipamentos médicos e infecta feridas, causando pneumonia.
IA. No estudo da universidade canadense, a inteligência artificial ajudou a reduzir milhares de produtos químicos em potencial a um conjunto que poderia ser testado em laboratório. Os resultados foram publicados na revista científica Nature Chemical Biology.
Os cientistas utilizaram drogas conhecidas e com estrutura química exata em testes manuais para ver qual seria capaz de retardar ou matar a Acinetobacter baumannii. Depois, inseriram essas informações na plataforma de inteligência artificial para que ela pudesse aprender as características químicas das drogas.
A tecnologia foi colocada para rastrear, então, uma lista de 6.680 compostos cuja eficácia era desconhecida. Em uma hora e meia, chegou a uma lista de 240. Por fim, os pesquisadores testaram as substâncias selecionadas e encontraram nove antibióticos em potencial. Uma delas, a abaucin, se mostrou extremamente potente nos testes em laboratório: é capaz de tratar feridas infectadas em camundongos e matar amostras da superbactéria.
Os próximos passos, segundo Stokes, são aperfeiçoar o medicamento em laboratório e realizar ensaios clínicos. A expectativa é de que em 2030 o antibiótico esteja disponível para pacientes. •
Fonte: O Estado de S. Paulo