Instituições criam consórcio para testar medicina remota com 5G e outras tecnologias e convidam empresas
Por Ivone Santana — De São Paulo
28/02/2023 05h01 Atualizado há 6 horas
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Carolina da Costa, do Oswaldo Cruz: o plano dos parceiros é levar as tecnologias testadas a partir de hoje às unidades do SUS e também à saúde suplementar — Foto: Carol Carquejeiro/ Valor
O núcleo de inovação do Hospital das Clínicas (InovaHC) e o seu Instituto de Radiologia (InRad); o Insper, instituto de ensino e pesquisa; e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz anunciarão nesta terça-feira a criação de um consórcio para testar tecnologias e desenvolver aplicações para a prestação de serviços de saúde em todo o país. O projeto dá prioridade de uso das tecnologias testadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), mas as aplicações também poderão ser usadas no setor de saúde complementar. Outras empresas de saúde e tecnologia poderão aderir ao consórcio.
A formação desse consórcio não envolve joint venture ou qualquer outro meio jurídico, afirmam os membros iniciantes. As lideranças devem se alternar de acordo com os projetos, começando pelo HC, vinculado à Universidade de São Paulo (USP). Também não há investimentos estabelecidos, a não ser o custo das horas de trabalho de cada equipe e do uso de seus respectivos equipamentos.
Depois da fase de testes, as tecnologias poderão ser incorporadas ao SUS, de modo que populações de regiões distantes tenham acesso a exames e análises de médicos que estarão em outras localidades, explica o professor Giovanni Cerri, presidente do conselho do InRad e do InovaHC.
Desse modo, uma unidade do SUS precisará apenas de um profissional de saúde que coloque o paciente no equipamento que fará o exame, e não de um técnico, pois a operação do instrumento será remota. Há equipamentos de saúde, como os de ressonância magnética, que ficam parados nos fins de semana por falta de técnicos especializados, diz o professor. Uma central pode operar remotamente vários equipamentos. Para isso, engenheiros adaptarão os sistemas.
“Do nosso lado, como hospital privado, vamos testar também as aplicações no universo Proadi [Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde – Proadi-SUS]. Então, podemos trabalhar no aspecto do Sistema Único de Saúde”, diz Carolina da Costa, diretora-executiva de educação, pesquisa, inovação e saúde digital do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O acesso às tecnologias testadas não se restringirá ao HC e Oswaldo Cruz. O resultado passa a ser de domínio público, afirma Marcos Lisboa, presidente do Insper. O plano é expandir para um programa mais amplo de saúde associado à área de engenharia.
No momento, não se pensou no hospital privado com fins lucrativos, diz Costa. Esse hospital, embora privado, não visa o lucro, e um dos aspectos do estudo é como pode transferir conhecimento e tecnologias, com a conexão que possui com a indústria e o HC.
“Queremos mais parceiros”, diz Costa. “A ideia é ter um hub de desenvolvimento e teste de novas tecnologias, começando com 5G pelo impacto que tem no sistema.” Os primeiros testes nesta terça-feira serão com laudo a distância em unidades do SUS de alguns municípios do interior paulista – os nomes não foram revelados.
As instituições querem estudar como as tecnologias podem se desenvolver em parcerias, com análise de impacto, efetividade na saúde pública e redução de custos. Os parceiros creem que o uso do sistema digital de saúde e menos idas dos pacientes aos prontos socorros podem ajudar a reduzir os custos.
A ideia do consórcio surgiu inicialmente de uma colaboração do hospital Oswaldo Cruz com o InovaHC, diz o professor Cerri. Esse núcleo foi criado há seis anos para incentivar a cultura de inovação e empreendedorismo no Hospital de Medicina da USP, dentro do HC. Segundo Cerri, mais de 200 startups passaram pelo InovaHC.
Para o professor Cerri, o projeto 5G tem “missão de caráter social importantíssimo”. A Claro é citada como parceira de telefonia. Mas onde não houver rede telefônica disponível poderá ser usada a rede privativa OpenCare 5G do HC, de arquitetura aberta, multifornecedores e que usa o núcleo de rede do Itaú Unibanco, com 6 mil data centers e independente de operadora específica.
Lisboa, do Insper, disse que a engenharia da escola nasceu focada em como novas tecnologias podem tratar de problemas para ajudar as pessoas. Começou com o hospital da USP e se propagou para outros hospitais e empresas. “Talvez por isso tem tantos engenheiros do Insper voltados para saúde.”
Fonte: Valor Econômico