Por Liane Thedim, Valor — Rio
28/06/2023 11h24 Atualizado há 12 horas
André Esteves, cofundador e presidente do conselho de administração do BTG Pactual, disse nesta quarta-feira que já está claro que os juros no Brasil começam a cair em agosto, mas frisou que o Banco Central (BC) deveria iniciar o ciclo com um corte de 0,50 ponto percentual, e não de 0,25, como é esperado. Segundo ele, como a Selic está em patamar muito alto, há espaço para uma redução mais rápida, sobretudo se a atividade econômica do país começar a desacelerar mais e se os Estados Unidos iniciarem a trajetória de afrouxamento monetário.
“Não acho que deveríamos começar em doses muito homeopáticas”, afirmou ele no evento BTG Talks 2023. “O BC vem dando sinais de comedimento porque não quer que o mercado saia do controle das expectativas, mas a economia está se desinflacionando aos poucos e, até a próxima reunião, vamos continuar vendo indicadores fracos, como vendas, produção e crédito. Prefiro um corte 0,5, mas acho difícil que não seja 0,25”, acrescentou.
Segundo Esteves, o mundo terá que conviver com taxas de juros mais altas e inflação fora da meta por mais tempo. Ele afirmou que os bancos centrais de Estados Unidos e Europa terão que buscar uma convergência dos índices de preços para as metas mais lenta “para evitar custo excessivo às suas sociedades”.
“É um ambiente muito diferente do que foram os últimos 15 anos. Não só as taxas estarão mais altas, mas também a inflação vai estar um pouco acima do que se convencionou chamar de metas. Nos países do G7 elas são de 2%, e no Brasil e na maioria dos emergentes é de 3%, menos na Índia, onde é 4%. A gente viveu mais de uma década de juros zero ou negativos em larga escala. Vivemos claramente uma bolha”, afirmou.
Para o banqueiro, EUA e Europa demoraram a agir contra a inflação, ao contrário do Brasil, “o primeiro a subir juros” no mundo. “O Brasil é muito treinado, somos muito cautelosos com inflação e temos a resposta pronta”, acrescentou.
Renda fixa x variável
Esteves disse que a renda fixa foi praticamente esquecida nos últimos dez anos e agora vai ser retomada nos portfólios diante dos juros mais altos nos EUA e na Europa. Mas, afirma, isso não significa que as carteiras não devem ter alocação em ações.
“A parcela que estávamos alocando em renda fixa no passado recente era muito restrita, mas isso vai mudar para adequar os portfólios nessa direção”, comentou.
Segundo ele, os spreads de crédito no mundo inteiro mudaram de patamar. “Hoje, a taxa básica e o spread – inclusive de ativos de primeira linha – estão altíssimos. Eu aumentaria a parcela em títulos prefixados e ou indexados à inflação, como CRAs ou debêntures de infraestrutura de boa qualidade, que ainda têm isenção de Imposto de Renda. E deixaria um pouco menor a parcela ligada ao CDI.”
Esteves frisa que, numa visão de portfólio diversificado, já é o momento de montar uma carteira em ações, mas tendo em perspectiva que, nesse cenário de “juros nessa magnitude, é um mundo mais de renda fixa”.
“As ações brasileiras começaram o ano muito baratas e, nesse segundo trimestre, a bolsa teve performance muito boa. Mudou um pouco a dinâmica. Estava muito otimista na fase pré-eleitoral, depois muito pessimista com o início de cacofonia econômica do governo, e agora está ficando mais moderada. O Brasil tem grandes empresas que vão navegar em cenários adversos entregando resultados positivos”.
Roberto Sallouti, CEO do banco, também destacou que o momento é de aproveitar juros e spreads de crédito altos, mas frisou que há muitas empresas “muito boas e muito baratas na bolsa”. Ele afirmou ainda que o banco deve lançar no fim do fim do terceiro trimestre sua plataforma de investimentos e de banking internacional, que terá pela frente um cenário mais favorável de câmbio, diante do enfraquecimento do dólar.
Fonte: Valor Econômico

