A incerteza sobre a política fiscal brasileira e a taxa de juro real no país ainda elevada devem fazer com que o câmbio doméstico continue rondando o nível de R$ 4,90 no fim deste e do próximo ano, segundo avaliação do chefe global de mercados do banco holandês ING, Chris Turner. Por conta dos riscos fiscais, o profissional diz ser conservador em relação à moeda brasileira, mas não descarta um cenário mais otimista. “Reconhecemos que no segundo semestre de 2024 poderemos ter um cenário em que o dólar opere perto de R$ 4,50”, diz.
Em nota enviada a clientes, Turner chama a questão fiscal de “calcanhar de Aquiles” do Brasil e questiona como ficará o cuidado com a evolução da dívida no ano que vem. Ele lembra que, para atrair os investidores no início deste ano, o governo conseguiu aprovar um novo arcabouço fiscal, com plano de déficit zero em 2024. “No entanto, o presidente Lula já começou a suavizar esta meta com palavras no sentido de ‘por que deveríamos reduzir o investimento apenas para satisfazer o mercado?'”, diz.
Para o chefe de mercados do ING, o fraco crescimento e o compromisso do presidente Lula com os gastos sociais alertam que a regra fiscal poderá sofrer ainda mais pressão em 2024 , “puxando o tapete” do real. Mas ele pondera, ao afirmar que nem tudo são más notícias. “Qualquer progresso na reforma dos complexos tributos de consumo no Brasil seria visto como algo positivo.”
Ainda segundo o profissional do banco holandês, é provável que o BC avance com seus cortes de juros, já que a expectativa é de que a inflação no Brasil permaneça moderada, perto de 4% no próximo ano. “Embora esse valor possa estar acima da meta de 3% do Banco Central, não deve impedir uma maior flexibilização”, diz.
Turner também ressalta que a autoridade monetária indica mais cortes de 0,50 ponto percentual nos próximos encontros, o que levaria a Selic para 11,75% no fim deste ano e 9,75% no verão (do Hemisfério Norte) ano que vem. “Mas o mercado tem lutado para conseguir precificar a Selic abaixo de 10% durante todo o ano de 2024”, afirma, complementando que “isso poderia mudar se as condições externas forem benignas (com o dólar mais fraco) e se o BC reiterasse a visão de que uma taxa real neutra para o Brasil seria de 4,5% – provavelmente equivalente a 8,5% nominal.”
Fonte: Valor Econômico

