Por Christopher Rugaber, Associated Press — Washington
13/06/2023 10h43 Atualizado há 14 horas
O índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos desaqueceu no mês passado, ao subir só 0,1% de abril para maio e ao prorrogar o abrandamento sistemático da inflação dos últimos 12 meses. Ao mesmo tempo, o núcleo da inflação permanece elevado. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação desacelerou para apenas 4% em maio — o mais baixo percentual em mais de dois anos e bem inferior à alta anual de abril, de 4,9%.
A retração foi impulsionada pela queda dos preços da gasolina, uma alta muito menor dos preços dos alimentos do que nos meses anteriores e pelo barateamento dos móveis, passagens aéreas e eletrodomésticos.
Os dados da inflação divulgados ontem pelo governo chegaram um dia antes da data em que se espera que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) mantenha as taxas de juros inalteradas após ter imposto 10 altas seguidas, desde março de 2022. Após dois dias de reunião, é provável que o Fed anuncie que deixará de promover uma alta das taxas, mas poderá sugerir a retomada da elevação dos juros em julho.
A queda da inflação total do mês passado não deve convencer as autoridades do Fed de que estão próximas de conter a inflação elevada que toma conta do país há dois anos. O banco central tende a focar mais de perto nos preços “núcleo”, que excluem os custos voláteis de alimentos e energia e são considerados mais passíveis de captar as tendências da inflação. Esses preços permanecem muito elevados.
Os preços “núcleo” subiram 0,4% de abril para maio, o sexto mês consecutivo de aumentos. Comparativamente a um ano atrás, o núcleo da inflação recuou de 5,5% para 5,3%, mas ainda está bem acima da meta do Fed, de 2%. Mas alguns sinais positivos, mesmo nas medidas dos preços “núcleo”, sugerem que as pressões do núcleo da inflação podem estar recuando. As altas exageradas dos preços “núcleo” foram puxadas, principalmente, pelo aumento dos aluguéis e uma nova elevação nos valores de carros usados. Dados sugerem que tais aumentos diminuirão em breve e contribuirão para desaquecer a inflação.
“Com exceção desses dois componentes, a tendência ficou muito estimulante”, disse Stephen Juneau, economista do Bank of America, em nota de pesquisa. “Devemos continuar a ver melhorias nos preços ‘núcleo’.“
Economistas dizem que a inflação está sendo impulsionada por um conjunto menor de bens e serviços. Excluindo-se os custos residenciais — com aluguéis e preços de hotel, responsáveis por um salto no mês passado —, os preços, na verdade, caíram 0,1% de abril para maio. E subiram só 2,1% em relação a maio do ano passado.
Os aluguéis subiram 0,5% de abril a maio, alta inferior à de pico, de 0,7% a 0,8%, do ano passado. Os preços dos carros usados dispararam 4,4% de abril a maio. Esses dois fatores impulsionaram 80% do aumento mensal dos preços “núcleo”, segundo Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics. E o governo americano disse que os custos residenciais respondem por 60% do núcleo da inflação ano a ano.
Mesmo assim, podem ser necessários meses para que os aumentos de custos nessas áreas percam força e voltem aos níveis pré-pandemia. Autoridades do Fed vão querer assistir à real concretização das quedas de preços previstas para aluguéis e carros usados antes de prorrogar qualquer pausa nos aumentos das taxas de juros.
“Há avanço, é estimulante”, disse Eric Winograd, economista-chefe da gestora de ativos AllianceBernstein. “Acho que é suficiente para que o Fed faça uma pausa [nos aumentos de juros]… Mas acho que não é suficiente para que possamos decretar que está tudo bem.”
Excluindo-se os carros usados, os preços de produtos como móveis, eletrodomésticos e computadores permaneceram inalterados, um sinal estimulante de que os gargalos das cadeias de suprimentos que causaram a disparada dos preços de dois anos atrás foram, em grande medida, solucionados.
Mesmo assim, a obstinação do núcleo da inflação reflete um desafio basilar para o Fed: a economia contraria sistematicamente as previsões de longa data de uma recessão, há mais de um ano. Em vez disso, as empresas continuaram a contratar a um ritmo saudável, os holerites estão subindo, em média, e os trabalhadores estão gastando livremente seus salários.
Fonte: Valor Econômico

