Apesar da boa notícia sobre a inflação em maio, que veio abaixo do esperado, a evolução dos preços ainda tem representatividade e requer observação, tanto pela volatilidade doméstica associada à condução da política fiscal, quanto pela internacional, em relação à guerra das tarifas de Donald Trump e a conflitos no mundo, como o da Rússia e da Ucrânia. A avaliação é do economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
“Eu diria que foi uma boa notícia, mas a gente precisa colecionar boas notícias para tentar ver se já dá para flexibilizar um pouco a política monetária”, diz.
A inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou para 0,26% em maio, após alta de 0,43% em abril, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O indicador, diz Braz, veio ligeiramente abaixo da sua expectativa, que era de 0,3% em maio, mas a composição veio em linha com o que se esperava, com efeitos de energia elétrica e tarifas aéreas na habitação, e com alimentação, o grupo de maior peso, com taxa positiva de 0,18%, bem menor do que a apurada em abril.
Na alimentação, destaca, houve grande influência dos produtos in natura, como tomate e arroz. Ao mesmo tempo, observa, café e carnes continuaram a subir.
“Percebe-se que a alimentação desacelerou, mas muito em torno de alimentos que têm comportamento sazonal. Isso quer dizer que essa notícia boa em torno de alimentos não vai durar por muito tempo. Tem a ver com a época do ano que é mais favorável à oferta de alguns itens que acabam ajudando a conter o avanço da inflação.”
Quando se olha a alimentação fora de casa, diz, há desaceleração em relação a abril, talvez até pela sazonalidade, também.
“As passagens ficaram mais baratas, mas isso não é tendência. Então, parece que a inflação ainda está no radar, não é que a inflação veio mais baixa e está tudo resolvido. Ela poderia ter sido mais baixa se não houvesse a influência da bandeira amarela na energia elétrica; na verdade há muito efeito sazonal pontual contribuindo para esse movimento.”
A alta da tarifa de energia elétrica, destaca ele, deve elevar o custo de vários segmentos da atividade. Ele lembra que houve a transição para bandeira vermelha 1, e o patamar 2 deve entrar nos próximos meses. “Mesmo que essa tarifa maior não seja um efeito duradouro no IPCA, ela pode influenciar outros segmentos a aumentarem preços, principalmente em serviços.”
E quando a conta de luz sair das tarifas mais gravosas, diz, os preços não devem voltar para baixo. A estimativa de Braz para o IPCA de 2025 é de 5,2%. Para ele, pode ser que o indicador seja revisto, mas ainda assim deve ficar acima do teto da meta, de 4,5%. “Teria que haver uma desaceleração muito intensa até o fim do ano para se chegar aos 4,5%.”
Fonte: Valor Econômico

