Por Felipe Frisch — De São Paulo
19/07/2022 05h00 Atualizado há 6 horas
As curvas das projeções dos economistas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano e dos próximos intensificaram a troca de direções entre si registrada nas últimas semanas pelo relatório Focus, do Banco Central (BC). A mudança foi ofuscada pela suspensão da publicação durante os meses de maio e junho, devido à greve dos servidores da autoridade monetária.
O movimento é semelhante, inclusive nas justificativas para o fenômeno, ao que ocorreu com o Produto Interno Bruto (PIB), cujas expectativas entre 2022 e 2023 trocaram de posição em meados de maio – acelerando a uma expansão esperada de 1,75% neste ano e mantendo um modesto 0,50% para o ano que vem, na pesquisa divulgada ontem.
Depois de atingirem um pico de 8,89% na sondagem concluída em 3 de junho, mas só divulgada mais de um mês depois, a mediana das apostas para a inflação oficial brasileira neste ano caiu de forma quase ininterrupta, até chegar aos 7,54% da última sexta-feira publicados ontem.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, os chamados Top 5, de médio prazo, o pico para 2022 foi atingido em 13 de maio (9,35%), tendo recuado a 7,65% no fim da semana passada.
Para 2023, o ponto-médio das estimativas para a inflação está no seu nível mais alto, 5,20% considerando todas as expectativas e 5,50% levando em conta apenas os campeões de acertos.
A explicação para essa inversão de rumo entre os diferentes anos para cada indicador são as diversas medidas que vêm sendo anunciadas pelo governo para combater a inflação e impulsionar o crescimento, diz o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal.
“Quando você junta tudo que foi anunciado, o que a gente vê é um cenário em que a inflação vai ser menor neste ano e, para ao ano que vem, tem uma alta nas expectativas por conta da reversão de algumas medidas”, diz o economista. “A zeragem dos impostos federais vale só até o fim do ano e isso é uma das coisas que está puxando a inflação do ano que vem para cima.”
Leal refere-se ao Projeto de Lei Complementar n° 18 (PLP 18), que limita a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. O texto, já sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, zera, aí apenas até 31 de dezembro, as alíquotas de PIS/Cofins e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre as operações com gasolina e etanol.
O problema é que são medidas de curto prazo, que jogam o risco de menor crescimento, ou recessão, para o ano que vem, assim como parte da inflação e a bomba fiscal dos gastos com vistas à eleição presidencial.
“O PIB pode surpreender, mas essas coisas não vêm de graça. Essa projeção de inflação de julho negativa é artificial”, diz André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). A Focus aponta uma deflação de 0,46% para o IPCA de julho.
Ele pondera que essa queda decorre do peso elevado da gasolina, considerado um “bem de luxo”, sem impacto na cadeia de suprimentos como o diesel tem.
“O cobertor é curto. O conflito na Ucrânia não vai acabar de uma hora para outra, tem risco de covid na Ásia ainda e inflação correndo solto no mundo. Um aumento de juros nos Estados Unidos enfraquece o real [o que pode levar a aumento de juros no Brasil], efeitos que podem aumentar ou reduzir inflação”, enumera Braz.
Fonte: Valor Econômico

