Por Gabriel Caldeira, Augusto Decker, Matheus Prado e Arthur Cagliari — De São Paulo
15/03/2024 05h02 Atualizado há 5 horas
O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos confirmou a tendência de aceleração da inflação americana em fevereiro, já observada no índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) desta semana. Com isso, o mercado ficou mais pessimista quanto à perspectiva para a política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central americano), o que pesou em especial nos Treasuries. Influenciado pelo exterior e por números fortes do varejo brasileiro, as taxas locais também exibiram forte alta.
A taxa da T-note de 10 anos, referência do mercado de renda fixa dos Estados Unidos, subiu cerca de 0,1 ponto percentual ontem para 4,301%, de 4,194% no fechamento anterior. Na ponta curta, a alta foi menor, com a taxa da T-note de 2 anos saindo de 4,641% para 4,715%.
Já a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 oscilou de 9,845% do ajuste anterior para 9,91%, e a do DI para janeiro de 2027 foi de 9,89% para 10,03%, retomando o patamar acima de 10%.
De acordo com o Escritório de Estatísticas Trabalhistas (BLS, na sigla em inglês), a inflação ao produtor americano avançou 0,6% entre janeiro e fevereiro, excedendo com folga a previsão de alta de 0,3%. O núcleo do indicador, que exclui preços de itens considerados voláteis, aumentou 0,4%, também acima do avanço esperado de 0,2%.
“Os resultados do PPI, tomados em conjunto com os resultados do CPI, superaram as expectativas pelo segundo mês consecutivo e deixam algumas dúvidas em relação à continuação do processo de desinflação nos Estados Unidos”, diz Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brazil Wealth Management.
Ele ressalta que será necessário esperar até a quarta-feira para conhecer a avaliação do Fed sobre os últimos indicadores, quando o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) divulgará a sua decisão monetária junto da atualização do seu Sumário de Projeções Econômicas (SEP, na sigla em inglês). “No entanto, a leitura predominante é que provavelmente será necessário mais tempo para que o Fomc possa, com segurança, iniciar o ciclo de afrouxamento monetário”, conclui Olivares.
Após o PPI, o mercado praticamente eliminou a expectativa do início dos cortes de juros do Fed em maio, conforme mostra levantamento do CME Group. Além disso, os investidores se moveram ainda mais à perspectiva de que o Fed cortará os juros apenas uma vez a cada duas reuniões até dezembro deste ano. Isso significa que, a depender de quando os cortes começarão, o Fed só vai reduzir seus juros em 0,5 ou 0,75 ponto percentual até o fim de 2024.
“Já vemos alta dos juros nos Estados Unidos há algumas sessões, e grande parte da dinâmica interna tem sido determinada pelo movimento mais forte lá fora. Os dados mostram atividade ainda robusta tanto no exterior quanto aqui, e também há um ajuste de posições antes das reuniões de política monetária da semana que vem”, afirma André Nunes de Nunes, economista-chefe do Sicredi. Na quarta-feira, tanto o Banco Central quanto o Fed divulgam decisões de juros.
Na avaliação de Javier Amador e Iván Fernández, do banco espanhol BBVA, a tendência por uma postura mais cautelosa do Fed pode adiar a normalização da curva de juros dos Estados Unidos para 2025. “A curva de rendimento está invertida há 17 meses consecutivos, com as taxas do Treasury de 3 meses bem acima dos rendimentos de 10 anos. Além de ser o período mais longo de inversão nos últimos 40 anos, também falhou (até o momento) em prever uma recessão. Como o Fed continua a adiar o início de um ciclo de cortes, talvez não vejamos uma curva normal e inclinada para cima até 2025”, dizem em relatório.
Além do PPI, a sessão foi marcada pela forte alta do varejo restrito no Brasil, de 2,5% em janeiro ante dezembro, enquanto a mediana das expectativas coletadas pelo Valor Data indicava uma alta de 0,1% e o teto era de avanço de 1,7%.
Os dados americanos provocaram uma deterioração do sentimento por risco em Wall Street, onde as bolsas fecharam em queda mesmo depois de um pregão sem fôlego no dia anterior. O índice Dow Jones recuou 0,35%, a 38.905,66 pontos; o S&P 500 caiu 0,29%, a 5.150,48 pontos; e o Nasdaq exibiu queda de 0,30%, a 16.128,53 pontos. Pressionado pelas ações de Vale e B3, o Ibovespa seguiu a tendência negativa do exterior e fechou em queda de 0,25%, a 127.690 pontos.
Refletindo a perspectiva por um Fed mais conservador, o dólar teve um dia de apreciação global, fechando em alta de 0,22%, cotado a R$ 4,9865. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana em relação a seis divisas pares, encerrou a tarde de ontem em alta de 0,56%, a 103,366 pontos.
Fonte: Valor Econômico

