O progresso na redução da inflação nos EUA estagnou em novembro, com o índice de preços ao consumidor subindo para uma alta anual de 2,7%, acima da taxa de 2,6% de outubro, segundo dados oficiais divulgados ontem.
A chamada medida núcleo da inflação, que exclui preços de alimentos e energia, aumentou 0,3% no mês em novembro, maior alta desde maio de 2023, segundo informou o Departamento do Trabalho. Isso levou a medida núcleo para 3,3% em termos anuais.
Mas os números do relatório de a inflação de novembro ficaram em linha com a expectativas dos analistas, e reforçaram as expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduzirá sua taxa de juro básica na próxima semana em mais 0,25 ponto porcentual – se confirmado, será o terceiro corte seguido.
Ontem, as ações subiram em Nova York, impulsionadas pelas expectativas de novo afrouxamento monetário. O índice Nasdaq Composite saltou mais de 1% e ultrapassou a marca de 20.000 pela primeira vez.
Porém, o relatório de inflação trouxe também sinais preocupantes. Isso porque até agosto, os preços de muitos bens estavam, no geral, em queda ou estáveis por cerca de um ano. Essa tendência parece ter se revertido agora. Isso apresenta ao presidente eleito Donald Trump um desafio enquanto ele se prepara para assumir o cargo com a promessa de acabar com a inflação. Economistas temem que a inflação de bens possa acelerar se o novo governo Trump cumprir com suas ameaças de impor tarifas de importação generalizadas.
Diana Swonk, economista-chefe da KPMG Economics, disse que há sinais de que os consumidores estão comprando itens mais caros, como carros, para se antecipar a potenciais aumentos de preços relacionados a tarifas. “Isso é uma espécie de memória muscular”, disse. “Algo assim nunca teria acontecido antes da pandemia, e o fato de termos visto isso é apenas um sinal de alerta para que o Fed fique atento.”
Alguns economistas também expressaram preocupações sobre a inflação persistente no setor de serviços, que compõe a maior parte da atividade econômica dos EUA. Os custos com assistência médica aumentaram 0,4% pelo segundo mês consecutivo.
Essas preocupações podem levar o Fed a limitar o número de cortes no juro em 2025, enquanto esperam por mais confirmações de que a inflação está no caminho certo para convergir à sua meta de 2%. As autoridades do Fed divulgarão novas previsões e projeções de taxas na conclusão de sua reunião de dois dias na próxima semana.
O que vimos foi um sinal de alerta para que o Fed fique atento”
“Acho que eles podem prosseguir com segurança e fazer um corte de 25 pontos-base em dezembro. Os mercados estão preparados para isso”, disse Loretta Mester, ex-presidente do Fed de Cleveland. “No entanto, eles precisam repensar sobre o próximo ano, porque parece agora que o progresso na contenção da inflação estagnou um pouco.”
Embora aumentos expressivos de itens como alimentos e quartos de hotel tenham elevado a inflação como um todo no mês passado, essas categorias são voláteis com frequência. Já o custo de moradia, uma fonte de inflação persistente, esfriou em relação a outubro, assim como custos de seguros de carros e passagens aéreas.
Na semana passada, o presidente do Fed, Jerome Powell, sugeriu que, com a economia saudável de forma geral, o Fed poderia reduzir sua taxa básica gradualmente. “Nós ainda não chegamos lá, em termos de inflação, mas estamos avançando”, afirmou Powell. “Podemos nos dar o luxo de ser um pouco mais cautelosos.”
Com o esfriamento do mercado de trabalho, o crescimento dos salários dos americanos desacelerou de um ritmo anual de quase 6% em 2022 para cerca de 4% hoje, uma taxa quase consistente com a meta de inflação do Fed, de 2%. Powell já disse que não acredita que o mercado de trabalho atual seja um fator de pressão sobre os preços.
Fonte: Valor Econômico

