Por Anaïs Fernandes e Lucianne Carneiro — De São Paulo e do Rio
13/09/2023 05h01 · Atualizado há 4 horas
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 0,23% em agosto, após alta de 0,12% em julho, conforme divulgou ontem o IBGE. Ainda assim, a taxa ficou abaixo da mediana das projeções colhidas pelo Valor Data, de 0,29%, e do piso das estimativas, que iam de 0,24% a 0,40%.
No acumulado em 12 meses, o IPCA passou de 3,99% em julho para 4,61% em agosto. A aceleração da inflação já era amplamente esperada pelos economistas, conforme saem da conta períodos de deflação do ano passado (-0,36% em agosto de 2022, por exemplo), fruto de medidas do governo anterior em meio à corrida eleitoral.
“A trajetória de desinflação segue seu curso, embora ainda gradual em alguns itens”, afirma Helcio Takeda, diretor de pesquisa econômica da Pezco.
A alta do IPCA em agosto foi puxada, principalmente, por três fatores: o fim do “bônus de Itaipu”, que havia dado um desconto nas contas de luz em julho; o reajuste da gasolina e o aumento de preços dos carros novos, “devolvendo” os descontos anteriores promovidos por um programa governamental. Juntos, esses três itens contribuíram com 0,29 ponto percentual do IPCA de agosto, nota Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
A energia elétrica, especificamente, subiu 4,59% em agosto e teve influência de 0,18 ponto percentual no índice. Já o grupo alimentação e bebidas caiu 0,85% e retirou outro 0,18 ponto.
A alimentação no domicílio, inclusive, surpreendeu para baixo ao recuar 1,26% em agosto, a terceira queda mensal seguida. “Nesses três meses, a queda acumulada foi de 3,02%”, aponta o gerente do IPCA, André Filipe Guedes Almeida.
“A abertura [do IPCA] foi boa, com deflação forte de alimentos” — Tatiana Pinheiro
“A abertura foi boa, com deflação forte de alimentos, mostrando o repasse da deflação do atacado”, diz Tatiana Pinheiro, economista-chefe Brasil da Galapagos Capital.
Economistas destacaram também a “qualidade” boa do IPCA de agosto, por causa do comportamento de medidas de núcleo e métricas subjacentes, que tentam suavizar o efeito de itens voláteis.
A média dos cinco principais núcleos acelerou de 0,18% em julho para 0,28% em agosto, influenciada pelos bens industriais subjacentes, que subiram 0,38%, vindo de queda de 0,05% em julho, de acordo com a MCM Consultores. Ainda assim, a alta na média dos núcleos ficou abaixo do 0,30% projetado pela mediana do mercado, aponta Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
Além disso, em 12 meses, houve desaceleração da média dos núcleos de 5,6% para 5,2%, patamar que não era alcançado desde junho de 2021, observa João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital.
A difusão (percentual de itens em alta na cesta) subiu de 46,15% para 53%, mas ainda está bem abaixo dos 65,25% de agosto do ano passado, nota Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
“Embora a difusão tenha aumentado no mês, continua em linha com a inflação em torno de 4% no médio prazo”, afirmam Daniel Karp e Adriano Valladão, economistas do Santander.
Os serviços e os serviços subjacentes – categoria que exclui itens voláteis como passagens aéreas e mantém aqueles mais ligados ao ciclo econômico – não só desaceleraram significativamente, como vieram abaixo do esperado.
A alta nos preços de serviços passou de 0,25% em julho para 0,08% em agosto, enquanto os serviços subjacentes foram de 0,2% para 0,14%. Em 12 meses, os serviços passaram de 5,6% para 5,4%, o menor resultado desde janeiro de 2022, observa Almeida. O acumulado dos serviços subjacentes foi de 6,1% para 5,5%, a menor variação desde novembro de 2021, segundo Alexandre Maluf, da XP.
“O que a gente tem observado é uma desaceleração gradual da inflação de serviços”, diz Almeida, acrescentando que isso acontece a despeito do aumento da ocupação no mercado de trabalho e da redução do desemprego, que tendem a pressionar os preços de serviços.
Na medida móvel de três meses anualizada e dessazonalizada – uma forma de suavizar movimentos mensais, mas ainda captar a tendência “na ponta” -, a média dos núcleos desacelerou de 3,4% para 3,2%, e os serviços subjacentes passaram de 5,3% para 4,1%, segundo o Santander.
Com o resultado de agosto, algumas casas ajustaram ligeiramente suas projeções para o IPCA em 2023, como a Guide Investimentos e a LCA, ambas de 5,1% para 5%. A consultoria BRCG ajustou de 4,8% para 4,7%.
Para o IPCA de setembro, as projeções preliminares estão entre 0,3% e 0,4% – a Pezco espera 0,35%, a Terra Investimentos, 0,39%, e a G5 Partners, 0,4%, por exemplo. Segundo Almeida, do IBGE, o número de setembro deve refletir reajustes de tarifas de energia, como em Belém, São Luís e Vitória, e ainda o efeito parcial dos reajustes dos preços de gasolina e de óleo diesel nas refinarias em 16 de agosto.
O preço da gasolina subiu 13% em 2023, até agosto, e responde por quase um quinto da alta do IPCA no ano. Em agosto, após o reajuste de 16,3% pela Petrobras, o preço do combustível subiu 1,24% no IPCA. Ainda assim, os valores do mercado interno estão defasados ante os internacionais, como mostrou reportagem do Valor.
Fonte: Valor Econômico

