Por Adriana Cotias, Valor — São Paulo
27/02/2023 16h15 Atualizado há 13 horas
Na assembleia de cotistas que vai ser realizada nesta terça-feira (28) para definir o futuro do fundo de renda fixa Select, da Infinity Asset Management, duas propostas serão apresentadas aos investidores que estão com seus recursos travados desde o dia 8, por decisão da administradora, a RJI CTVM. A gestora foi desligada da Anbima, entidade que representa o mercado de capitais e de investimentos, em dezembro, dois anos depois de a entidade aprovar, em processo administrativo, o descredenciamento da casa — punição que foi adiada por liminar na Justiça.
Na pauta do encontro desta terça-feira, a Infinity sugere continuar à frente do portfólio, o veículo que concentra a maior parte do patrimônio da casa, com pouco mais de R$ 280 milhões, e que chegou a reunir mais de 10 mil cotistas — atualmente, tem cerca de 5 mil. O fundo seria reaberto em 3 de março, desde que aprovadas alterações no regulamento, a exemplo do pagamento de resgates em 75 dias, com a conversão no 76 dia, após o pedido do investidor. Atualmente, assegura liquidez diária.
Conforme o comunicado aos cotistas, nesse prazo seriam adotadas algumas medidas para a redução das operações do fundo, a liberação de margem de garantia e haveria o vencimento de posições de renda fixa em aberto com volume suficiente para que o “fundo possa reabrir sem risco de causar transferência de riqueza entre cotistas”, com a redução do valor da cota por causa da zeragem forçada de posições.
Para quem preferir a liquidação antecipada, em três dias, a transação estaria limitada a 5% do volume de cotas que o investidor detém, com uma taxa de saída de 0,05% sobre o valor do resgate. Após o cumprimento do prazo e dos pedidos de saques, o fundo voltaria à regra atual, de conversão em dinheiro no mesmo dia.
Uma solução alternativa vem da LAD Capital para assumir a carteira de renda fixa da Infinity e passar a administração fiduciária para a Órama e a custódia para o Banco B3. Na sua apresentação aos investidores, a asset informa ter cerca de R$ 400 milhões sob gestão.
No documento, a gestora escreve que a carteira disponibilizada pela administradora atual na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sugere que 80% da exposição esteja composta por uma operação de box [estratégia de opções em quatro pontas] e que ao entrar em contato com o atual gestor do fundo, não obteve mais informações. O objetivo ao assumir o fundo, é direcioná-lo “a uma política de liquidez menos concentrada para gerar valor a longo prazo, de acordo com os objetivos do fundo”.
Para um patrimônio de até R$ 100 milhões, a taxa de gestão seria de 0,54%, caindo a 0,52% para um volume superior a isso. A taxa de administração seria de 0,16% e 0,14%, nesses mesmos parâmetros, com uma custódia em 0,033%. Haveria ainda uma performance de 20% quando o fundo superasse 102% do CDI. São custos em linha com o que vêm sendo cobrados atualmente.
O desenho sugerido pela LAD estaria condicionado ao envio das “informações verdadeiras, completas e auditadas sobre o fundo e a sua correspondente carteira, no prazo de até cinco dias” para que em dez dias a gestora e a Órama possam realizar suas respectivas diligências para decidir se dão sequência à proposta.
Pelo formulário de referência, de abril de 2021, a sociedade era formada por André Luis de Souza Fernandez e Luiz Felipe de Moraes Terra Favieri. Como diretor de administração fiduciária teve Julius Haupt Buchenrode — que não está mais operação.
Fernandez foi do Banco Destak, atuou na Global Invest na gestão de multimercados e ações e foi sócio-gestor da Norte Investimentos. Favieri teve passagens por Citi, Itaú e Banco Fibra.
No documento, a LAD aparecia então com um patrimônio de quase R$ 1,7 bilhão. Segundo explicou o comando da gestora, esse volume foi inflado por um fundo de investimentos em participações (FIP), o FP2, que tinha um “ativo bom dentro”, a participação na rede Porcão, mas que foi marcado praticamente a zero por não conseguir recuperar e depois transferido para outra gestora.
O interesse pela carteira da Infinity vem da experiência em lidar com situações complexas, mas também do interesse em entrar na gestão de fundos líquidos. O entendimento dentro da LAD é que como a RJI está ligada a Anbima, ela não tem como manter a gestora atual do Select, que foi descredenciada pela autorregulação.
A Anbima penalizou a Infinity por entender que houve o descumprimento de uma série de normas, com a violação de limites previstos no regulamento, falha no acompanhamento de riscos de crédito das operações, na administração de potenciais conflitos de interesses e falta de independência da área responsável por gestão de risco e compliance e adoção de práticas contrárias à relação fiduciária.
Em janeiro de 2021, a CVM já tinha rejeitado, num processo sancionador, proposta de termo de compromisso de André Tadeu Paes de Souza, Andréa Moreira Lopes, Celso Gil Fernandez e David Jesus Gil Fernandez, administradores da Infinity. Datada de 2018, a ação teve seu relator sorteado e ainda aguarda julgamento. A autarquia aponta infrações como não agir com lealdade em relação ao interesse dos cotistas, não cumprir itens do regulamento nem respeitar limites de concentração por emissor nas aplicações em opções flexíveis sem garantia e tampouco obedecer o limite de ativos relacionados à classe do portfólio.
A Infinity escreve em nota que preparou um plano de ação baseado em prazos e condições seguras aos investidores, visando impedir a transferência de riqueza entre os cotistas e sem a necessidade de reduzir estratégias com prejuízo à cota. “Lembrando que até hoje a gestora sempre entregou ótimos resultados com bastante constância e segurança aos cotistas de seus fundos.”
Fonte: Valor Econômico

