Na comparação com igual mês em 2021, a produção industrial subiu 2,8% no mês
Por Lucianne Carneiro e Marcelo Osakabe — Do Rio e de São Paulo
06/10/2022 05h01 Atualizado há 6 horas
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Após um respiro em julho, a indústria brasileira voltou a oscilar negativamente em agosto, à medida que o restante da economia também dá sinais de desaceleração após o bom momento vivido no primeiro semestre.
Segundo a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial caiu 0,6% em agosto ante julho. O recuo foi ligeiramente inferior à mediana das estimativas de 31 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor, que era de 0,7%, livre dos efeitos sazonais.
Na comparação com igual mês em 2021, a produção industrial subiu 2,8% em agosto, também melhor que a mediana das expectativa dos analistas, que era 2,2%.
O recuo, no entanto, foi concentrado em poucas atividades, Dos 26 ramos pesquisados pelo instituto, oito tiveram retração no mês. O segmento de pior desempenho foi o de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, com queda de 4,2%.
“Houve uma perda disseminada entre os produtos desse ramo industrial, com redução na produção de óleo diesel, óleos combustíveis, gasolina, álcool, entre outros. Mas essa atividade, em comparações mais alongadas, mostra um comportamento positivo. Ou seja, esse comportamento de queda de agosto é algo mais pontual”, notou André Macedo, responsável pela PIM-PF no IBGE.
Entre os grandes grupos, os bens intermediários anotaram perda de 1,4% na passagem entre julho e agosto – a categoria representa 55% da indústria. Já o os bens semi e não duráveis tiveram retração de 1,4%. Por outro lado, os segmento de bens de capital subiu 5,2% na margem, e o de bens duráveis, 6,1%.
Apesar da contração no número principal, a abertura dos dados mostra um cenário mais positivo, nota o economista-chefe do Banco ABC, Daniel Xavier, ponderando que o índice de difusão do crescimento entre setores passou 42% em julho para 48% em agosto, na comparação anual.
Em relatório, o Santander também enfatiza o crescimento ainda espraiado entre os segmentos, com destaque para as contribuições vindas da produção automotiva, máquinas e equipamentos e outros produtos químicos. Após o dado, o banco recalibrou sua projeção para o IBC-Br – prévia do PIB calculado pelo Banco Central – de -1,5% para -1,4% em agosto.
Apesar da melhora, o Santander calcula carrego estatístico nulo para o terceiro trimestre, percepção corroborada pela piora de indicadores antecedentes em setembro e também pelo nível de utilização da capacidade, que caiu de 82,2% para 80,8%, segundo o banco. “Caso se confirmem as projeções, o PIB industrial pode apresentar o primeiro resultado negativo desde o terceiro trimestre de 2021”, diz Lucas Maynard, economista do banco.
Xavier também calcula um carrego nulo para o resultado da PIM no terceiro trimestre – o que, trazendo para o PIB industrial, significa uma expansão de 0,4%, contra 2,2% no trimestre anterior.
Para Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, o quadro segue positivo e a indústria deve conseguir zerar até dezembro a contração que tem acumulada no ano, atualmente em 1,2%. Em sua avaliação, o segmento é ajudado por uma melhora dos preços de insumos e das condições logísticas e da demanda em alta por causa do mercado de trabalho aquecido. Por outro lado, a recomposição dos estoques deve continuar a perder força e os juros seguem altos.
Com isso, a LCA estima que a produção industrial termine o ano com alta leve, de 0,3%.
Macedo, do IBGE, pondera que as medidas de estímulo lançadas pelo governo, como a liberação de saques extraordinários do FGTS e a antecipação do pagamento do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS, também vêm perdendo fôlego. “No início do ano, as medidas de incremento de renda claramente dão impulso [à indústria] via demanda. Isso fica muito visível na frequência de taxas positivas. Mas, à medida que vai se afastando dessas fontes de recursos pontuais, o setor industrial também vai perdendo um pouco desse fôlego”, afirmou.
Fonte: Valor Econômico