Por Sérgio Tauhata — De São Paulo
05/04/2022 05h03 Atualizado há 5 horas
O CDP, anteriormente Carbon Disclosure Project, é uma organização internacional que mede o impacto ambiental de empresas e governos em todo o mundo. Os números do grupo falam por si: mais de 9,6 mil empresas e organizações, que somam cerca de US$ 106 trilhões em ativos e representam mais de 50% da capitalização de mercado global, reportam dados de responsabilidade ambiental segundo a metodologia da entidade.
No Brasil, o CDP lançou o primeiro índice de resiliência climática com empresas listadas no país em 2020. E esse referencial chega à terceira carteira teórica em 2022 com um desempenho significativo. Com o nome de Índice CDP Brasil de Resiliência Climática (ICDPR70) – o número 70 faz referência ao peso de 70% para a nota de gestão de risco climático conferida pelo CDP como critério de avaliação para o indicador, enquanto os outros 30% dizem respeito a liquidez – o indicador superou em muito o Ibovespa em 2021. O referencial climático exibiu retorno de 6,09% durante a vigência da carteira, de 30 de abril de 2021 a 31 de março deste ano, contra 0,93% do principal indicador da B3 e -0,04% do IBrX. Desde o lançamento em abril de 2020, o ICDPR70 acumula rentabilidade de 77,25%. O Ibovespa e o IBrX registram, respectivamente, 64,34% e 66,70%.
A nova carteira teórica mostra grande avanço em termos de evolução das empresas nos indicadores medidos pelo CDP. Em parceria técnica com a consultoria Resultante ESG, o ICDPR70 passou a incluir desde 1º de abril 36 empresas que receberam ao menos nota “B-” nos relatórios da entidade. Segundo o CDP, o índice mede o desempenho financeiro de uma carteira teórica composta por empresas listadas na B3, que atuam em território nacional, com elevado nível de conscientização sobre as questões climáticas e integração de medidas efetivas na redução de suas pegadas de carbono.
Passaram a fazer parte do índice Americanas, Azul, Minerva, Brasil Foods, Cia Siderúrgica Nacional (CSN) e Petrobras Distribuidora e foram excluídas em 2022 Dexco, Movida e Ultrapar, por redução do desempenho no questionário ou queda relativa na liquidez das ações – critério também observado na composição da carteira. Os setores com maior representatividade são o financeiro e de materiais básicos, com 21,20% e 19,78% de participação, respectivamente.
“Lá atrás, no início do índice, tivemos de incluir empresas com nível ‘C’, que mostra organizações com um bom nível de consciência sobre os riscos, mas sem um planejamento concreto de iniciativas”, afirma a diretora-executiva do CDP América Latina, Rebeca Lima. “Mas no ano passado observamos aumento de maturidade das empresas brasileiras, o que possibilitou que subíssemos a nota de corte para ‘B-’, ou seja, de empresas que já têm uma gestão de riscos”, avalia. “São companhias que incluem os riscos climáticos na gestão de riscos, investem em inovação e estão adequando seus modelos de negócio para se tornarem mais resilientes”, conclui a executiva.
Na nova carteira, ainda predominam as empresas com nota “B” ou “B-”: são 27 empresas ou 75%. Apenas nove companhias fazem parte do grupo considerado “A”, de organizações que lideram as iniciativas da área. “A tendência é subir ainda mais a barra, se tudo der certo, e, daqui a dois anos, a gente vai estar contando a história de que a nota vai incluir só empresas nível ‘A’”, diz.
Para a CEO da Resultante, Maria Eugênia Buosi, “a ideia do índice é ser um referencial para produtos de investimento”. Conforme a executiva, “já temos conversas com fundos de pensão interessados em usar a carteira do ICDPR70 como estratégia de investimentos e temos tido consultas de gestores que têm interesse de estruturar fundos e ETFs a partir do indicador”.
Buosi explica que o ICDPR70 será o ponto de partida para uma família de índices sustentáveis no futuro. “Podemos criar uma família de índices, porque esse ‘framework’ é muito vasto. Tendo interesse de investidores, podemos fazer vários tipos de recortes específicos, como um referencial sem critérios de liquidez e até por regiões como América Latina e outras.”
Fonte: Valor Econômico

