Por Larissa Garcia — De Brasília
27/02/2023 05h02 Atualizado há uma hora
Os mandatos dos diretores de fiscalização e de política monetária do Banco Central (BC) terminam nesta terça-feira e ainda não há definição sobre nomes que serão indicados para ocupar os cargos. Segundo apurou o Valor, alguns nomes já foram sugeridos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem a prerrogativa de escolher os novos membros do colegiado.
As indicações ganharam relevância em meio aos ataques do presidente à autonomia do BC e ao nível elevado dos juros. Além disso, será a primeira nomeação no novo governo, sob a gestão de um presidente da autoridade monetária que não foi escolhido pelo atual chefe do Executivo.
Após as críticas de Lula, foi levantada no governo a possibilidade de que os diretores escolhidos fossem alinhados ao PT e fizessem contraponto aos outros membros do Comitê de Política Monetária (Copom), que sairiam em defesa da antecipação do início dos cortes da taxa básica (Selic).
O diretor Bruno Serra (política monetária) disse recentemente que ficará no cargo até que seu sucessor seja indicado, já que a lei que concedeu autonomia ao BC não prevê exoneração imediata após o término do mandato. A cadeira de Paulo Souza (fiscalização), por sua vez, é mais técnica e normalmente é ocupada por servidores de carreira. Por isso, há expectativa de que ele seja reconduzido.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou em entrevista ao “Roda Vida”, da TV Cultura, no último dia 13 que “a prerrogativa de indicação de diretores é do presidente [da República]”. “Se precisar de sugestões eu envio. Se quiser sentar e conversar sobre sugestões que já existem também estou aberto”, disse.
“Posso atuar sempre tentando ajudar. A gente tem dois casos, de um diretor de carreira [fiscalização], que é uma pessoa que fez um trabalho espetacular, inclusive em uma agenda que o presidente Lula gosta muito, que é o cooperativismo. Vale lembrar que teve resultados muito bons”, disse. “Ele [Souza] queria sair por motivos de saúde, melhorou e disse que não quer mais sair. Acho que é um ótimo caso de recondução. Mas, de novo, a prerrogativa é do governo”, continuou.
Sobre o diretor de política monetária, Campos ressaltou que o dirigente atua diretamente com o mercado. “Ele tem uma interação muito grande com o mercado, porque tem a relação do câmbio, dos leilões, então precisa ser uma pessoa que tenha uma experiência técnica de mesa de operações. A única coisa que eu disse é que é importante ter uma pessoa que tenha essa experiência”, pontuou.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou a jornalistas no início deste mês que havia recebido “inclusive do presidente do BC” nomes “técnicos” que serão avaliados pelo presidente da República.
Após a divulgação da última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano e indicou que deve postergar ainda mais o início dos cortes, o presidente Lula e aliados intensificaram as críticas ao aperto monetário promovido pelo BC e à autonomia da autarquia.
Em sinal de aproximação, Haddad e Campos se reuniram na semana passada em Bangalore, na Índia, na reunião de ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G20, e almoçaram juntos. A indicação dos diretores é vista no mercado como termômetro da relação do titular do BC com o novo governo. Campos foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e esteve por trás da articulação para a aprovação da autonomia da autoridade monetária.
Fonte: Valor Econômico

