Por Arthur Cagliari, Valor — São Paulo
23/11/2023 12h12 Atualizado há 22 horas
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, disse nesta quinta-feira que juros próximos a zero ou negativos, como observados nas economias de mercados desenvolvidos nas últimas três décadas, não devem voltar a ser uma realidade, ainda que veja as taxas caírem em relação aos níveis atuais. “Boa parte das medidas [de política monetária] hoje adotadas tem um caráter temporário, para controlar uma inflação mais persistente”, afirmou. “Veremos os juros mais baixos, mas não tão baixos como vimos nos últimos tempos.”
As declarações do executivo foram feitas durante o 18º Seminário Internacional Acrefi (SIAC). Para Ilan, os governos terão que ser mais seletivos na alocação de recursos devido ao nível mais elevado dos juros em relação ao passado recente. “Ao fazerem gastos, os governos vão ter que escolher aqueles que parecem mais relevantes”, afirmou. “Não é tarefa fácil. É algo mais fácil de falar do que fazer. Temos poucas experiências na América Latina e no mundo de avaliação de gastos que deram certo ou não.”
O presidente do BID disse, ainda, que os países com dívidas mais altas terão de repensar os gastos. “No caso das economias de renda mais alta, há menos eventos [que determinam tantos gastos] e por isso há mais espaço [para realocar os recursos]”, disse. Ilan apontou que países em desenvolvimento com dívidas altas já têm tentando buscar maneiras de contornar esse problema e citou como exemplo o Equador, “que neste ano entrou em um swap de dívida”. “A prioridade antes era cuidar de Galápagos, e agora há vários pedidos de troca de dívidas por saúde, educação, clima e questões energéticas”, afirmou o executivo.
De acordo com o chefe do BID, há na América Latina uma demanda crescente por serviços públicos para melhorar a questão da pobreza e para reduzir a desigualdade. “Os governantes têm tido dificuldades para atender a essa demanda. Alguém pode dizer que é preciso gerar esses recursos, o que significaria aquecimento do PIB, mas, infelizmente, a América Latina tem tido muitas décadas perdidas de crescimento.”
Ilan ressaltou, porém, que a América Latina — e o Brasil especificamente — está hoje em um ambiente de oportunidade de investimento por fazer parte de soluções dos problemas globais. “Posso dar três exemplos: primeiro a natureza e a biodiversidade. Está claro que a floresta amazônica e outros biomas da América Latina são muito relevantes para [conter] o aquecimento global”, disse o executivo.
O segundo exemplo dado por Ilan foi o fato de que a região é importante para garantir segurança alimentar “e o Brasil tem potencial de ser o grande fornecedor de alimentos para o mundo”. Já o terceiro fator destacado pelo executivo foi a transição energética. “O Brasil está em uma posição privilegiada para ser um dos maiores atores globais porque já tem uma matriz [energética] limpa e tem abundância de fontes renováveis.”
Fonte: Valor Econômico

