21 Nov 2022
Thiago Amâncio e Alexa Salomão Colaborou Douglas Gavras, de São Paulo
O ex-presidente do Banco Central do Brasil Ilan Goldfajn foi eleito para comandar o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Goldfajn, 56, será o primeiro brasileiro a presidir a instituição situada em Washington, que financia projetos de desenvolvimento na América Latina e no Caribe.
Indicado ao posto pelo governo Jair Bolsonaro (PL), o nome do economista sofreu forte pressão contrária do PT após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
Mesmo assim, Goldfajn foi escolhido em primeiro turno. Nascido em Israel e filho de brasileiros, ele chefiou o BC entre 2016 e 2019.
As prioridades apresentadas por Goldfajn no processo seletivo se alinham às de Lula: combate à fome, cooperação entre países, crescimento com inclusão social e meio ambiente.
Washington e Brasília Ilan Goldfajn, que comandou o Banco Central no governo de Michel Temer (MDB), foi eleito neste domingo (20) presidente do BID (Banco Interamericano do Desenvolvimento). Ele será o primeiro brasileiro a dirigir o organismo, considerado o maior banco de desenvolvimento multilateral regional do mundo e que tem sede em Washington.
O resultado também é uma vitória para o ministro Paulo Guedes (Economia), que indicou Ilan. Após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, houve pressão contra o brasileiro por parte do PT, que queria sugerir outro nome. Mesmo assim, Ilan foi eleito em primeiro turno na Assembleia de Governadores, que reúne representantes dos países que compõem o banco, com votos que representam 80% do capital da entidade. Ele assume o cargo em 19 de dezembro.
Presidente do BC entre 2016 e 2019, Ilan, 56, licenciou-se do cargo de diretor de Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional) para disputar a eleição.
Nascido em Israel e filho de brasileiros, é formado em economia na Universidade Federal do Rio, com doutorado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA.
Ele concorria com outros quatro candidatos: a argentina Cecilia Todesca Bocco, secretária de Relações Econômicas Internacionais da chancelaria do país; o mexicano Gerardo Esquivel, um dos diretores do banco central do país; o chileno Nicolás Eyzaguirre, ex-ministro da Economia; e Gerard Johnson, de Trinidad e Tobago, ex-funcionário do BID.
A eleição para o banco, fundado há 63 anos e que financia projetos de desenvolvimento econômico, social e institucional na América Latina e no Caribe, foi facilitada depois que o governo da Argentina abriu mão da candidatura de Todesca Bocco na reta final e decidiu apoiar Ilan, que já tinha apoio dos EUA.
Como EUA, Brasil e Argentina têm a maior parte das ações do banco (30% para o primeiro, 11,4% para cada um dos dois últimos), o caminho se abriu para o brasileiro.
Guedes fez um giro com autoridades do continente em Washington em outubro, durante as reuniões do FMI e do Banco Mundial, na tentativa de angariar apoio a Ilan. Os candidatos foram sabatinados no dia 12, e o brasileiro foi quem causou a melhor impressão.
A candidatura foi ameaçada, porém, quando Jair Bolsonaro perdeu as eleições, porque o PT trabalhou para adiar o pleito e emplacar outro nome.
O ex-ministro petista da Fazenda Guido Mantega chegou a enviar um email à secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, no qual solicitou que o pleito fosse adiado por 45 a 60 dias. A eleição, porém, não foi adiada, mas a escolha de Ilan ficou ameaçada, uma vez que autoridades não queriam correr o risco de se indispor com o próximo presidente do Brasil.
Na quinta-feira (17), no entanto, Mantega renunciou ao seu cargo na equipe de transição do governo Lula, o que voltou a dar tração no BID a Ilan.
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), aproveitou para aparar as arestas e também parabenizou Ilan em rede social. Ele reforçou
“a disposição do Brasil em estreitar os laços com o banco pelo desenvolvimento econômico e social da nossa região”.
Yellen também parabenizou Ilan e disse que o BID desempenha um papel vital na promoção do bem-estar econômico, social e ambiental da América Latina e do Caribe.
“Os EUA esperam trabalhar com o presidente Goldfajn para implementar o conjunto de reformas que os acionistas estabeleceram para reforçar o desenvolvimento sustentável, inclusivo e resiliente; crescimento liderado pelo setor privado; ambição climática; e aumentar a eficácia institucional do BID.”
O Ministério da Economia disse em nota que celebra a eleição de Ilan e que o resultado foi conquistado após campanha liderada pela pasta.
Para a pasta comandada por Guedes, a vitória é um reconhecimento da plataforma apresentada pelo Brasil para que o banco priorize três eixos centrais: infraestrutura física e digital, com mobilização de recursos privados e criação de oportunidades para a integração regional; combate à pobreza, desigualdade e insegurança alimentar; e mudança do clima e biodiversidade.
Conforme mostrou a Folha, as prioridades de Ilan apresentadas no processo seletivo do banco se alinhavam também às de Lula e incluíam combater a fome, promover a cooperação entre países, fomentar crescimento com inclusão social, diversidade e preservação ambiental.
Para Otaviano Canuto, que foi vice-presidente do Banco Mundial e do BID e diretor-executivo do FMI e do Banco Mundial, a escolha foi acertada.
“Ilan tem as características pessoais e o perfil de alguém ótimo para dirigir uma instituição como essa”, afirma, elogiando o foco em energia limpa, segurança alimentar, aumento da cooperação regional e conservação de recursos naturais. “O desafio vai ser buscar algum processo de aumento de capital, para aumentar a escala do que o banco faz.”
Em novembro, estavam previstos quase US$ 30 bilhões (R$ 160 bilhões) pelo BID para projetos em preparação ou implementação no Brasil. Entre eles, programas para potencializar negócios de bioeconomia na Amazônia, expansão do ensino em Florianópolis (SC), investimentos rodoviários no estado de São Paulo e pecuária sustentável em Mato Grosso.
A eleição põe fim a um conturbado período que começou com a chegada de Mauricio Claver-Carone ao posto, em 2020. Acusado de se envolver com uma subordinada, o americano foi destituído por unanimidade em setembro.
No ano da eleição de Claver-Carone, havia forte disposição para que fosse eleito um brasileiro. O Brasil desistiu de emplacar um indicado após pedido direto do então presidente dos EUA, Donald Trump, a Bolsonaro para que o país apoiasse Claver-Carone, então diretor de Assuntos para o Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Fonte: Folha de S.Paulo