Por Rafael Rosas — Do Rio
09/11/2022 05h01 Atualizado
O arrefecimento do crescimento chinês e europeu foi fundamental para a queda de 0,62% do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) em outubro, na quarta deflação seguida. Mas, se as deflações anteriores estavam intimamente ligadas às reduções dos preços dos combustíveis e da energia, agora esse movimento vem principalmente de commodities agrícolas e seus efeitos no atacado.
Não por acaso, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-DI), com peso de 60% no IGP-DI, recuou 1,04% em outubro. Os combustíveis para consumo continuaram no terreno negativo, com recuo de 1,06%, mas tiveram uma queda menor que os 8,46% de setembro. A grande aceleração da queda de preços ficou dentro das matérias-primas brutas – grupo que passou de -1,95% em setembro para -2,79% em outubro -, com trajetórias relevantes entre setembro e outubro, como o café, que foi de -0,58% para -10,37%; minério de ferro, de -3,27% para -5,01%; e algodão em caroço, de -1,57% para -12,25%.
“A China e os países europeus tendem a crescer menos e isso colabora para o arrefecimento dos preços de grandes commodities”, afirma André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
O economista acrescenta que os combustíveis devem subir de preço, mas pondera que essa alta não deve “contaminar amplamente” a cadeia produtiva. “Espero que o arrefecimento [da inflação] continue. Vejo commodities como minério de ferro, café, adubos, fertilizantes e leite em queda e este movimento vai continuar.”
O IGP-DI de outubro trouxe ainda a alta de 0,69% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI), uma aceleração ante o 0,02% de setembro. O IPC, que tem peso de 30% no IGP-DI, ganhou força em seis de suas oito classes de despesa entre setembro e outubro: transportes (-2,63% para -0,19%), alimentação (-0,29% para 0,74%), habitação (0,40% para 0,58%), saúde e cuidados pessoais (0,59% para 0,85%), vestuário (0,38% para 0,73%) e despesas diversas (0,04% para 0,19%).
Apenas educação, leitura e recreação (de 4,36% para 3,07%) e comunicação (de -0,52% para -0,73%) desaceleraram ou aprofundaram a queda entre setembro e outubro.
Braz ressalta que a redução do ICMS em junho para combustíveis, energia e telecomunicações ajudou recentemente na queda dos IPCs. Nesse sentido, ele espera que o IPC do FGV Ibre termine 2022 em torno de 5%, enquanto o IPCA – medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – fique ao redor de 5,5%. O IPC-DI terminou outubro acumulando 3,33% no ano e 5,05% em 12 meses.
Em relação ao índice cheio, Braz espera que o IGP fique abaixo do IPCA neste ano. Em outubro, o IGP-DI marcou 4,89% no acumulado do ano e 5,59% em 12 meses.
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-DI) subiu 0,12% em outubro, ante 0,09% no mês anterior. Os três grupos componentes do INCC registraram as seguintes variações na passagem de setembro para outubro: materiais e equipamentos (-0,31% para -0,09%), serviços (0,34% para 0,36%) e mão de obra (0,39% para 0,27%). O INCC tem peso de 10% no IGP-DI.
Fonte: Valor Econômico

