As idas e vindas do governo Donald Trump em relação à imposição de tarifas de importação têm levado o governo brasileiro a ajustar suas expectativas e a recalibrar sua estratégia de negociação com os Estados Unidos, inclusive no que diz respeito à exportação de aço para o mercado americano.
Apesar da continuidade nas conversas entre as duas partes, a avaliação em Brasília é que há pouco espaço para avanços concretos nas negociações neste momento, sobretudo por limitações na interlocução do USTR (órgão responsável por coordenar o comércio exterior dos EUA) com a Casa Branca.
Desde o início do ano, autoridades dos dois países mantêm um canal de diálogo ativo, com sete rodadas de contatos já realizadas entre o vice-presidente, Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e diplomatas liderados pelo embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, com autoridades e técnicos do USTR, comandado por Jamieson Greer.
Segundo interlocutores ouvidos pelo Valor, o Itamaraty considera a atuação da equipe do USTR e do Departamento de Comércio nessas conversas como “extremamente profissional”. Ainda assim, as fontes captaram que não há um comprometimento efetivo da Casa Branca em relação a essas negociações. E a imprevisibilidade do presidente Trump e de seus assessores mais próximos tornou-se um obstáculo para avanços significativos.
No caso do tarifaço anunciado no início de abril, a estratégia brasileira agora é “deixar a poeira assentar”. Inicialmente, o presidente americano havia sinalizado tarifas adicionais que poderiam chegar a 50%. Mas, após pressões de setores empresariais dos EUA e de países afetados, recuou e fixou a alíquota em 10% para todos os países.
Imprevisibilidade de Trump e assessores mais próximos é obstáculo para avanços significativos
Diante disso, não está claro para o governo brasileiro qual seria exatamente o rumo de uma nova rodada de negociação nesse tema. Com as atenções de Washington voltadas para a China, com quem a guerra tarifária escalou recentemente, a atenção dada pela Casa Branca a parceiros como o Brasil tornou-se ainda mais escassa.
Mais avançadas estão as discussões sobre as tarifas de 25% aplicadas desde 2019 às exportações brasileiras de aço semiacabado para os EUA, uma das principais preocupações do Itamaraty e do Palácio do Planalto.
O governo Lula entende já ter deixado claro aos técnicos americanos que essas sobretaxas não apenas penalizam o Brasil, mas também afetam negativamente a própria indústria local, que depende do aço brasileiro como insumo e sofre com a alta dos custos.
O argumento brasileiro ganha força com o fato de que o país importa anualmente cerca de US$ 1,5 bilhão em carvão siderúrgico dos EUA para abastecer sua cadeia de produção de aço. Esse fluxo comercial gera empregos e receita para os americanos. E, para os negociadores, deveria ser levado em consideração por Washington ao reavaliar suas políticas tarifárias.
Mas, também nesse caso, USTR esbarra nas dificuldades de acesso à Casa Branca. Em meio à guerra comercial travada por Trump contra diversos parceiros globais, inclusive aliados históricos, temas mais complexos como o das tarifas contra o Brasil têm tido dificuldade para ganhar espaço na agenda do presidente.
Historicamente, o Brasil é um dos maiores fornecedores de aço semiacabado para os EUA e já esteve no centro de outras disputas no primeiro mandato de Trump. Em 2019, ele impôs tarifas sobre o aço e alumínio com base em questões de segurança nacional. O Brasil negociou cotas de exportação para evitar um impacto maior, mas o tema voltou à tona com a atual escalada protecionista.
De volta ao poder, Trump retomou a retórica agressiva contra o que considera práticas comerciais desleais, lançando um pacote de tarifas que atinge vários países.
A estratégia do governo Lula, segundo interlocutores, é evitar um confronto direto e buscar caminhos diplomáticos e legais para pressionar por uma revisão das tarifas. A prioridade, no momento, é manter os canais de diálogo abertos com o USTR e explorar a possibilidade de acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) em caso de escalada.
Fonte: Valor Econômico

