Uma confluência de fatores permitiu que o Ibovespa disparasse na sessão de ontem e encerrasse acima dos 158 mil pontos pela 1ª vez. Com isso, o índice superou os patamares vistos no último dia 11 deste mês e marcou novo recorde duplo: intradiário, aos 158.714 pontos; e de fechamento nominal, aos 158.555 pontos, com alta de 1,70%.
Segundo participantes do mercado, a perspectiva de corte de juros no Brasil e nos Estados Unidos, juntamente com a baixa alocação dos investidores em bolsa e o maior apetite a risco global no pregão, elevou a performance do Ibovespa ontem, em um dia em que declarações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), durante evento em São Paulo, também foram bem-recebidas por investidores.
O movimento global de maior apetite a risco alimentou ainda um avanço do real frente ao dólar e uma queda firme dos juros futuros de prazo mais longo. A performance positiva dos ativos locais vem ganhando força, à medida que se consolida a visão de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) cortará os juros em dezembro e que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá seguir a direção da autoridade monetária americana a partir de janeiro.
Já no exterior, as bolsas americanas estenderam os ganhos pela quarta sessão seguida, ao passo que o dólar no exterior teve queda. Os juros curtos dos Treasuries (títulos do Tesouro americano), por sua vez, subiram no fim da sessão, enquanto os de médio e longo prazos registraram queda.
A alta expressiva do mercado acionário local fez o Brasil se destacar entre os emergentes: o principal ETF de ações brasileiras negociado em Nova York teve alta de 2,81%, bem acima dos 0,72% registrados pelo principal ETF de mercados emergentes.
Apesar de o Ibovespa ter renovado recordes nas últimas semanas, a alocação de gestores locais em ações brasileiras segue baixa. Nesse cenário, o volume financeiro negociado nos pregões tem diminuído, o que deixa ainda mais evidente os movimentos de investidores internacionais, diz o sócio e cogestor dos fundos de ações e gestor de renda variável dos multimercados da JGP, Fábio Fonseca. A dinâmica pode ajudar a explicar a forte valorização do índice ontem.
Estrangeiros têm nos falado que colocariam o Brasil no radar com a confirmação de Tarcísio”
“Quando a bolsa fica menos líquida, qualquer interesse adicional já faz diferença no preço. Como a bolsa ficou muito pequena, qualquer gota de investimento do estrangeiro exacerba o movimento. O que explica isso é o baixo interesse em ações. Nunca ficamos tanto tempo sem IPO, por exemplo. Essa combinação mostra um desinteresse”, explica Fonseca.
Embora o volume da bolsa esteja menor, o gestor da JGP avalia que os resultados das empresas não estão em patamares ideais, mas defende que já passaram do ponto de inflexão. “É o que me deixa otimista ao olhar para frente.”
Um dos pontos que podem ajudar ainda mais as empresas é o corte de juros do Banco Central. Após a divulgação de um número ligeiramente acima do esperado do IPCA-15 de novembro, as taxas mais curtas da curva futura chegaram a subir ontem, mas o movimento perdeu força e os juros de menor prazo fecharam estáveis.
Já na ponta contrária, os juros futuros mais longos registraram queda firme, beneficiados por um movimento global de busca por risco. No fim, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento de janeiro de 2027 oscilou de 13,505%, do ajuste anterior, para 13,51%; e a do DI de janeiro de 2031 anotou forte queda de 13,10% para 13,015%.
Mesmo sem uma avaliação consensual sobre a qualidade do IPCA-15 divulgado ontem, o mercado seguiu otimista com a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) começar a cortar a Selic a partir de janeiro.
“Depois de hoje, o debate não é se o BC começará a flexibilizar em janeiro, mas sim qual será a magnitude do primeiro corte. Um movimento simbólico de 0,25 ponto percentual parece muito tímido; se o Caged de amanhã decepcionar, o mercado ficará feliz em precificar algo entre 0,25 e 0,50 ponto percentual na hora”, disse um participante do mercado.
No mercado de opções digitais de Copom, a precificação majoritária para a reunião de janeiro é por um corte de 0,25 ponto, com 38% de chance, seguido pela manutenção da Selic em 15%, com 31%. Já a probabilidade de um corte maior, de 0,5 ponto percentual, é de 26%, de acordo com as apostas dos investidores.
De olho nos próximos passos do Copom e do Fed, o dólar à vista exibiu desvalorização de 0,77%, cotado a R$ 5,3346. Perto do fechamento, o real era a quarta moeda com melhor desempenho frente ao dólar, na relação das 33 moedas mais líquidas acompanhadas pelo Valor.
Ao olhar a performance do câmbio daqui para frente, o gestor Filipo Venditti, da Parcitas Investimentos, avalia que há gatilhos que podem atuar em direções opostas sobre a moeda. Por um lado, ele cita que a sazonalidade de fluxo pode pressionar o real; por outro, o diferencial de juros beneficia a moeda brasileira.
“Já do lado político, o principal gatilho seria a confirmação do governador Tarcísio de Freitas como candidato”, aponta Venditti. “Temos ouvido de estrangeiros que colocariam o Brasil no radar a partir disso”, afirma, ressaltando que está sem posição no real agora.
O movimento do dólar à vista ontem espelhou a dinâmica ditada lá fora. Perto do fim do dia, o DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas fortes, cedia 0,09%. Já as taxas dos T-notes de 10 anos caíam para 3,994%, ante 4,000% na última sessão. Os principais índices americanos, por sua vez, fecharam em alta. No fim do dia, o Nasdaq avançou 0,82%; o S&P 500 ganhou 0,69%; e o Dow Jones teve valorização de 0,67%.
Fonte: Valor Econômico

