A corrida das empresas para distribuir dividendos antes da entrada em vigor da nova tributação, prevista para 2026, está provocando uma verdadeira onda de proventos na bolsa brasileira. O movimento, segundo a Eleven Financial Research, sustenta a percepção de que o Ibovespa segue barato em termos de preço e pode dar novo fôlego ao mercado nos próximos meses.
A partir do ano que vem, os dividendos que hoje são isentos passarão a sofrer incidência de 10% de imposto para valores acima de R$ 50 mil por mês, além da criação de uma tributação mínima para rendimentos anuais superiores a R$ 600 mil. Com isso, empresas que poderiam distribuir lucros mais à frente estão antecipando os pagamentos ainda dentro do regime de isenção.
Entre as companhias que anunciaram dividendos bilionários, o Itaú Unibanco (ITUB4) lidera a lista, com R$ 23,4 bilhões, seguido pela Vale (VALE3), com R$ 15,3 bilhões, e pela Petrobras (PETR4; PETR3), que aprovou distribuição de R$ 12,16 bilhões. A Axia, antiga Eletrobras, prevê desembolsar R$ 4,3 bilhões.
Além das gigantes do Ibovespa, WEG (WEGE3), Caixa Seguridade (CXSE3) e Ultrapar também aprovaram dividendos entre R$ 1 bilhão a R$ 1,9 bilhão.
Dividendos indicam Ibovespa barato
A forte geração de caixa pelas empresas reforça a leitura de que o Ibovespa segue barato, na visão da Eleven. Mesmo com valorização de mais de 30% no ano, os dados da casa de análise indicam que o preço sobre lucro (P/L) do Ibovespa está próximo de 9, o que mostra que o principal índice da bolsa segue negociando a um nível historicamente baixo de preço. Próximo, inclusive, da banda inferior observada em cenários de crise, como a recessão de 2016 e a pandemia de covid-19.
O preço sobre lucro (P/L) é um indicador que mostra quantas vezes o lucro de uma empresa está embutido no preço de suas ações. Na prática, ele indica quanto o investidor está disposto a pagar hoje pelo lucro gerado pela companhia.
Um P/L mais baixo sugere que a ação está mais barata, enquanto um P/L mais alto indica que o mercado aceita pagar mais caro, geralmente por expectativa de crescimento.
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Nos últimos anos, parte do mercado passou a questionar se o múltiplo baixo não refletiria um “novo normal” de lucro mais fraco. No entanto, para a Eleven, a enxurrada de dividendos mostra exatamente o contrário. As empresas seguem lucrativas, com endividamento sob controle e espaço para distribuir caixa aos acionistas, afastando a tese de que o desconto do mercado estaria ligado a uma deterioração estrutural dos resultados.
Em outras palavras, os preços das ações ainda não refletem plenamente a capacidade de geração de lucros das empresas. Ou seja, há oportunidades para os investidores de longo prazo.
Proventos superam o volume médio diário da bolsa
De acordo com a Eleven, o montante de dividendos anunciado apenas para dezembro já se aproxima de R$ 30 bilhões, valor superior ao volume médio diário do Ibovespa, que gira em torno de R$ 20 bilhões. E outros R$ 30 bilhões em dividendos já estão confirmados para o início do próximo ano.
Na avaliação da casa de análise, esse fluxo de recursos tem potencial para manter o Ibovespa em alta no curto prazo, já que parte relevante do dinheiro tende a voltar para o mercado de ações por meio do reinvestimento dos proventos.
Com os anúncios recentes, a Eleven projeta que este ano deve superar 2024 em termos de distribuição de dividendos, enquanto o início de 2026 também deve registrar um patamar acima da média histórica.
Fonte: Valor Investe

