Distância entre o que o governo e as famílias gastam com produtos e serviços de saúde se ampliou entre 2010 e 2021
PorLucianne Carneiro e Victoria Netto
A participação dos gastos com saúde no Produto Interno Bruto (PIB) do país avançou de 8% em 2010 para 9,7% em 2021, apontam os dados de pesquisa do IBGE. Segundo a analista Tassia Holguin, o movimento pode estar relacionado ao avanço das tecnologias no setor — com encarecimento de procedimentos — e ao envelhecimento da população brasileira.
“A incorporação da tecnologia na saúde é crescente. Há cada vez uma oferta maior de procedimentos, e mais avançados, há mais pedidos pelos médicos… Isso aumenta os gastos. Além disso, há a questão do envelhecimento”, afirma ela, ao divulgar a pesquisa “Conta Satélite de Saúde”, que pode ser considerada uma espécie de Produto Interno Bruto (PIB) da saúde.
Para calcular a participação dos gastos com saúde no PIB, o IBGE considera as despesas com o consumo de produtos e serviços no setor. O indicador engloba tanto o que é consumido pelas famílias quanto pelo governo.
Nos gastos das famílias, aparecem, por exemplo, compra de medicamentos, realização de exames, consultas particulares, internações e planos de saúde privados. Já os gastos do governo tratam da saúde pública e incluem serviços prestados em hospitais e estabelecimentos públicos de saúde, além de serviços adquiridos de estabelecimentos privados, como nas parcerias do Sistema Único de Saúde (SUS).
Na análise da trajetória do indicador entre 2010 e 2021, há diferenças quando se observa a evolução dos gastos das famílias e os do governo. Enquanto as famílias vêm ampliando a proporção de suas despesas no setor de saúde frente ao PIB, o mesmo não ocorre no caso dos gastos do governo. Assim, a fatia dos gastos das famílias ganhou ainda mais importância relativa.
Em 2010, a proporção de gastos das famílias era de 4,4%. O percentual foi aumentando ano a ano, até 2020: chegou a 4,9% em 2014, ultrapassou os 5% em 2015 (5,2%) e atingiu 5,9% em 2020. Em 2021, recuou para 5,7%.
No caso da fatia dos gastos do governo, a parcela das despesas de saúde do governo era de 3,6% em 2010, aumentou até 2016 (participação de 4% em um ano de crise econômica) e caiu em 2017 para 3,9%. Em 2018 e 2019, manteve-se estável (3,8%). Em 2020, a parcela das despesas do governo no PIB voltou a crescer (4,2%), caindo para 4% em 2021.
A distância entre a parcela das famílias e do governo, que era de 0,8 ponto percentual do PIB em 2010, foi ampliada para 1,7 ponto percentual em 2021. “Há uma trajetória diferente do consumo de bens e serviços de saúde quando se compara por setor institucional”, diz Holguin. Mais recente Próxima IBGE: Vacina contra covid fez disparar fatia de importações na oferta de medicamentos no país
Fonte: Valor Econômico