Por Harriet Agnew e Eric Platt, Valor — Financial Times, de Beverly Hills
14/05/2023 19h31 Atualizado há 14 horas
Howard Marks, um dos fundadores da gestora Oaktree Capital Management, de US$ 172 bilhões, alertou que o “boom” do crédito privado será posto à prova em breve, pois as taxas de juros mais elevadas e o crescimento econômico mais lento acumulam pressões sobre as empresas americanas.
O bilionário de 77 anos disse ao “Financial Times” que os grandes gestores de ativos competiram de maneira agressiva para conceder crédito aos maiores grupos de private equity enquanto o dinheiro entrava a rodo em 2020 e 2021, o que levantou dúvidas sobre as diligências que os fundos faziam antes de aprovar empréstimos multibilionários.
“[Warren] Buffett diz que só quando a maré baixa é que se descobre quem estava nadando nu. A maré ainda não baixou na área do crédito privado, o que significa que as carteiras não foram postas à prova”, afirmou. “Os gestores tomaram boas decisões sobre a concessão crédito e garantiram uma margem de segurança adequada, ou investiram rápido porque assim podiam acumular mais capital? É o que veremos.”
O crédito privado cresceu muito depois que a crise financeira de 2008 levou a uma reforma regulatória que afastou os bancos dos empréstimos especulativos e novos provedores entraram para preencher o vácuo, muitos apoiados por gigantes de private equity como Blackstone, Apollo e KKR.
A provedora de dados Preqin estima que o mercado de crédito privado, que inclui empréstimos para aquisições de empresas, cresceu para cerca de US$ 1,5 trilhão — de US$ 440 bilhões há uma década. A captação tem sido vigorosa e passou dos US$ 150 bilhões em todos os anos desde 2019.
Mas parte desse capital foi emprestada quando os mercados seguiam em ritmo cada vez mais forte, que parecia impossível de conter — antes que o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) começasse a elevar as taxas de juro de maneira agressiva. A concorrência entre os provedores de crédito empurrou os custos dos empréstimos para baixo na época.
Investidores levantaram dúvidas sobre transações fechadas naquele período, algumas das quais se baseavam no crescimento da receita e não na lucratividade da empresa. Juros mais altos também começam a pressionar as companhias, ao reduzir os lucros, e algumas pediram aos credores que abrissem mão do pagamento de juros em dinheiro.
Analistas da Moody’s preveem alta na inadimplência de empresas conforme o crescimento econômico desacelerar. Também advertem que a falta de informação sobre o mercado de crédito sugere “que o setor pode embutir riscos que neste momento não são visíveis”.
Marks fundou a Oaktree em 1995 com o diretor de investimentos Bruce Karsh e mais três pessoas. Conhecido por seus memorandos de investimento, é um contestador contumaz, caçador de pechinchas e seguidor da psicologia do mercado que tenta atuar segundo o lema de Buffett: tenha medo quando os outros são gananciosos e seja ganancioso quando os outros têm medo.
Agora, enxerga um ambiente fértil para provedores de crédito como a Oaktree, enquanto os bancos se retraem mais depois da quebra do Signature Bank e de outros dois bancos regionais dos EUA. O Fed informou neste mês que os bancos têm endurecido os critérios dos empréstimos para empresas e alertou para uma possível crise de crédito.
“Hoje você tem algumas taxas de juro expressivas e uma certa escassez de capital, já que os bancos estão contidos”, disse Marks. “Este é um clima bom… você pode conseguir retornos de capital da dívida hoje, e quando você investe em dívida, tem um nível de certeza de retorno muito maior em relação à propriedade do capital.”
Marks afirmou que é um contraste com o cenário de 2009 até 2021, quando as taxas de juro eram baixas e “todos estavam ansiosos para investir”. “Se todo mundo está ansioso para investir, você não conseguirá uma barganha”, disse. “É simples oferta e demanda. Por mais de uma década, não era um bom momento para ser um provedor de crédito. Agora é um momento muito melhor.”
A Oaktree se expandiu para além de suas raízes na área de dívidas de empresas inadimplentes e hoje investe em crédito, private equity, ativos reais e ações negociadas em bolsas de valores. A empresa está no meio de uma captação na qual busca angariar US$ 10 bilhões para financiar grandes aquisições apoiadas por private equity.
Fonte: FT / Valor Econômico

