O governo de Hong Kong encontrou uma solução para enfrentar o êxodo de cidadãos e a queda na taxa de natalidade: estimular o nascimento de mais crianças com subsídios às famílias.
A cidade perdeu o apelo que tinha para alguns moradores nos últimos quatro anos, período de regras rígidas durante a pandemia de covid-19, ansiedade sobre a crescente influência política da China e a concorrência de Cingapura e outros lugares.
Aqueles que decidem permanecer na cidade estão cada vez mais optando por não ter filhos: a taxa de fertilidade de Hong Kong é a mais baixa de todo o mundo. O governo da cidade espera resolver esse problema pagando um bônus em dinheiro aos casais que tiverem filhos.
Eles receberão o equivalente a US$ 2.550 (cerca de R$ 11,3 mil), além de outras vantagens, como prioridade no aluguel ou na compra de imóveis subsidiados pelo governo, além de maior acesso às técnicas de fertilização in vitro.
Há apenas 0,8 filhos nascidos por mulher em Hong Kong, de acordo com um relatório do Fundo de População da ONU publicado neste ano, que comparou a cidade com outros países e territórios.
A cifra coloca Hong Kong abaixo da média de 0,9 filho por mulher na Coreia do Sul, que também oferece bônus em dinheiro aos novos pais para tentar estimular o nascimento de bebês.
Mas é improvável que a tentativa da cidade funcione, segundo Paul Yip, especialista em saúde populacional e professor da Universidade de Hong Kong, que acredita que a taxa de natalidade continuará a cair.
“Não esperamos que alguém tenha um bebê por 20 mil dólares de Hong Kong”, disse ele, referindo-se ao valor do bônus na moeda local. “Mas é uma melhoria em relação ao ano passado, quando o governo achava que isso não era um problema.
As medidas anunciadas nesta semana pelo chefe executivo de Hong Kong, John Lee, terão como foco aqueles que hesitam em ter filhos por motivos econômicos. Para Yip, a política é positiva, mas visa apenas uma minoria dos cidadãos.
Hong Kong não é a única região do mundo a lutar contra uma queda na natalidade. A taxa de fertilidade na China continental caiu drasticamente, e a população do país diminuiu no ano passado durante décadas. Já no Japão, o índice atingiu o nível mais baixo em 16 anos durante a pandemia.
A cidade também não é a primeira a tentar elevar a taxa de natalidade com incentivos. Cingapura tem oferecido pagamentos em dinheiro para novos pais há décadas. A Coreia do Sul recentemente aumentou o auxílio nacional para US$ 750 por mês, após medidas anteriores terem sido pouco efetivas.
O número de crianças nascidas em Hong Kong a cada ano tem sofrido um declínio constante desde 2014, mas o problema se agravou nos últimos anos. Entre 2019 e 2022, a queda foi de 40%, passando de 52.900 para 32.500 no ano passado, de acordo com dados do governo.
A proporção de mulheres em Hong Kong que não têm filhos chegou a 43% em 2022, mais do que o dobro do percentual de 2017, segundo uma pesquisa da Associação Familiar de Hong Kong. Cerca de 40% das mulheres jovens que não querem ter filhos disseram que a cidade não é adequada para o desenvolvimento das crianças, em comparação com 16% em 2011.
O número de alunos nos jardins de infância em Hong Kong caiu quase 18% entre 2019 e 2022, número levemente maior do que a queda de 11% registrada entre as crianças no ensino fundamental, de acordo com estatísticas do governo.
Hong Kong planeja introduzir a educação patriótica nas escolas, embora o currículo atual já inclua alguns tópicos destinados a promover um senso de identidade compartilhado com a China continental.
Pequim impôs uma ampla lei de segurança nacional em Hong Kong em 2020, após amplos protestos contra o governo. Os EUA responderam com uma série de sanções contra políticos que teriam minado a autonomia da cidade. Lee, o atual chefe executivo, foi um dos alvos das medidas americanas.
O declínio da taxa de natalidade aumenta a lista de problemas para um governo que está enfrentando uma mudança da posição de Hong Kong no mundo. A cidade era vista como um ponto de encontro para empresas estrangeiras e ocidentais, mas várias companhias estrangeiras deixaram ou reduziram a presença na região.
No ano passado, pela primeira vez em pelo menos três décadas, havia mais empresas chinesas do que americanas com sede regional em Hong Kong, de acordo com dados do governo. Isso foi causado por movimentos de ambos os lados. As companhias dos EUA reduziram sua presença, enquanto as chinesas se mudaram para a cidade.
Hong Kong quer incentivar mais empresas estrangeiras a se estabelecerem na cidade, segundo Lee disse nesta semana. O governo trabalhará para atrair companhias de fora da região e para simplificar os requisitos para que empresas listadas na bolsa de valores local, mas com sede no exterior, se mudem para lá.
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Taxa de natalidade de Hong Kong vem caindo nos últimos anos — Foto: Jerome Favre/Bloomberg
Fonte: Valor Econômico

