24/10/2022 – Jornalista: JENNE ANDRADE
Analista de ações da Levante Ideias de Investimentos traçou os portfólios para cada cenário conforme o presidente eleito.
A votação do segundo turno se aproxima, mas ainda com um cenário indefinido. Pesquisa divulgada na quarta-feira pelo Datafolha apontou empate entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) dentro da margem de erro: o ex-presidente com 52% dos votos válidos, enquanto o atual presidente com 48%.
Pensando em preparar os investidores para diferentes conjunturas, Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos, montou três carteiras: uma para a vitória de Lula, outra para a vitória de Bolsonaro e uma ?defensiva?, para ir bem independentemente do eleito.
Os portfólios foram enviados com exclusividade ao E-Investidor e são descritos nesta entrevista: Como o mercado deve reagir no “dia seguinte” ao 2.° turno das eleições? Na minha visão, vai acontecer como no primeiro turno. O mercado vai subir no dia, mas o principal vai ser o ajuste de papéis, porque um candidato favorece mais alguns setores e empresas, enquanto o outro favorece diferentes setores e empresas. Para o segundo turno, o cenário está muito dividido. Ninguém consegue ter certeza de que um ou outro vai vencer. O que estou percebendo é que as pessoas estão diminuindo o grau de apostas, deixando para posicionar no último dia antes da votação.
Para 2023, qual será o principal fator preponderante para a Bolsa? A inflação é o principal fator determinante da Bolsa até 20232024. Se a inflação for para 5%, como o Boletim Focus está projetando, em 2023 não vamos precisar ter um juro de 13,75%.
Com juros mais baixos, poderemos ter condições de a economia crescer 0,5% no segundo semestre do ano que vem ou 2% anualizado. Com isso, as empresas do setor interno da Bolsa devem ser as mais beneficiadas.
Estou falando de varejo, como Magalu e Americanas; vestuário, como Lojas Renner, Soma e Arezzo; construção civil e bancos. Para 2023, o setor exportador, dependente de commodities, como petróleo, mineração, siderurgia e papéis de celulose, pode ter um período um pouco mais difícil, porque existe uma chance muito grande de a Europa e os Estados Unidos estarem em recessão. Em recessão, o preço de minério, aço, papel e celulose e petróleo devem cair. As carteiras devem ter uma rotação setorial mais favorável às empresas do mercado interno e aos bancos. E as exportadoras de commodities devem ficar de lado no período.
A definição do próximo presidente não entra nessa conta de juros e inflação? Qual seria o efeito, por exemplo, de um governo Bolsonaro na Bolsa? O Bolsonaro, se continuar, vai ser mais do mesmo. Já sabemos qual a agenda do Paulo Guedes. Eles vão lutar para a economia ter um crescimento na faixa de 2% a 3%, com reformas. Podemos esperar um período bom, com inflação mais baixa, juros mais baixos, dólar nessa faixa atual, na casa dos R$ 5,20 ou R$ 5,30. Se o Bolsonaro continuar, o cenário é razoavelmente tranquilo.
Uma empresa que se beneficiaria muito, especificamente no caso de o Bolsonaro ser reeleito, é a Petrobras.
O atual presidente já falou que quer privatizar a empresa. Se ele realmente conseguir durante esses quatro anos, ela pode dobrar de preço na Bolsa. Uma continuação do governo Bolsonaro vai atingir positivamente todos os setores da Bolsa, menos o educacional, porque ele não dá bola para a parte de educação.
E no caso de um governo Lula? No caso do governo Lula existe um ponto de interrogação muito grande. No primeiro mandato ele foi completamente liberal. Foi um governo de meta de inflação, de controle fiscal, voltado para como é hoje o governo Bolsonaro.
Além disso, tinha o (Henrique) Meirelles no Banco Central e o Antonio Palocci na Fazenda. A repetição do Lula 1 seria um dos caminhos, e o mercado bateria palmas. Contudo, há uma segunda hipótese, de termos um governo estilo Lula 2 ou Dilma, com aquilo tudo de nova matriz econômica, aumento de investimento governamental, aumento de déficit e dívida. Nesse cenário, o dólar e a inflação aumentariam e o juro não cairia.
O mais provável, na minha opinião, é que seja uma coisa no meio do caminho, a terceira hipótese. Lula vai ter de olhar um pouco o que o PT quer fazer e olhar um pouco o que os economistas tucanos, liberais, que o apoiam agora, estão sugerindo.
Os investidores estrangeiros temem uma crise institucional caso Bolsonaro não vença. Existe essa possibilidade? O risco de ter uma ruptura é muito baixo. Se o Bolsonaro perder, ele continuará sendo Bolsonaro: vai sair reclamando, mas vai sair. Não vai querer entregar a faixa, vai falar no jornal que as eleições não foram limpas, mas que ele aceita etc. Eu costumo falar para os investidores que os governos passam, os governantes também, mas as empresas e a Bolsa continuam.
Fonte: O Estado de S.Paulo

