O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ontem que não há data prevista para o anúncio das medidas de corte gastos do governo federal nas quais a equipe econômica vem trabalhando. Ele também disse desconhecer projeções, publicadas nas últimas semanas por veículos de comunicação, de que os cortes ficarão entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões e afirmou que “não chamaria de ‘pacote’” as medidas. As declarações pioraram o humor do mercado, que esperava a apresentação de um pacote de corte de despesas após as eleições municipais.
“Não sei de onde saíram [as projeções]”, disse Haddad no Ministério da Fazenda, antes de reunião com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin. “Número você só divulga depois da decisão.”
O ministro disse que terá “várias reuniões” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta semana para tratar do tema. Neste momento, a equipe econômica está “fazendo as contas” dos impactos fiscais para apresentar ao presidente. Ele ainda destacou que o assunto vem sendo debatido com o Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO). Na segunda-feira, a titular do MPO, Simone Tebet, disse ser preciso “coragem para cortar o que é ineficiente”.
As declarações de Haddad ontem aumentaram as incertezas de agentes econômicos a respeito das perspectivas para as contas públicas e impulsionaram ainda mais a piora observada ao longo do dia nos mercados. O dólar à vista encerrou a sessão no maior patamar desde 30 de março de 2021, com alta de 0,92%, para R$ 5,76.
A dívida bruta do governo geral (DBGG), principal indicador de estoque do endividamento público, já subiu quase sete pontos percentuais em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) desde o início do terceiro mandato de Lula. Segundo o Banco Central, o indicador terminou agosto em 78,5% do PIB – patamar já elevado em relação à média dos países emergentes. Além disso, especialistas em contas públicas projetam que a DBGG continuará subindo nos próximos anos.
Após as declarações de Haddad, ele se reuniu na noite de ontem com Lula no Palácio da Alvorada. Também participaram o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e dois secretários do Ministério da Fazenda: Dario Durigan, executivo, e Guilherme Mello, de Política Econômica. O tema da reunião não foi divulgado.
Fonte: Valor Econômico

