23 Oct 2023 STEPHANIE TONDO ESPECIAL PARA O E-INVESTIDOR
Com patrimônio de mais de R$ 1 trilhão, os fundos de pensão brasileiros são um filão que chama a atenção das gestoras há muitos anos, mas poucas conseguem abocanhá-lo. O potencial de investimento é ainda maior em ativos no exterior, que hoje representam menos de 1% da carteira dessas fundações, mas poderiam, por lei, chegar a 10%. Foi de olho nisso que três veteranos do mercado financeiro decidiram fundar uma empresa para ajudar a aproximar as casas de gestão desse mercado. Os “casamenteiros” são os executivos Frederico Duarte (ex-Plural e Canvas), Heitor de Souza Lima (ex-Franklin Templeton e Schroders) e Gianmarco Gomes (um dos sócios-fundadores da Itajubá e ex-Plural), que lançaram em agosto a ÍSOS Investimentos. Em setembro, a empresa deu início a um roadshow, em parceria com o BTG Pactual, para aproximar gestoras internacionais dos fundos de pensão privados. Nesta entrevista, Duarte explica que a ÍSOS ajuda essas casas a “transitar pelo ambiente” das fundações.
Os fundos de pensão possuem cerca de R$ 1,2 trilhão investido, segundo a Abrapp. Do total, apenas 12% estão em renda variável. Qual o potencial de crescimento da renda variável nesses portfólios?
Para que os fundos aumentassem a alocação em renda variável, precisaríamos ter uma taxa de juros real mais baixa que a meta atuarial dessas fundações, o que ainda não acontece. Se voltarmos a um nível próximo ao de 2020 em termos de alocação em renda variável dos fundos de pensão, podemos estimar um valor próximo de R$ 30 bilhões para esse segmento. Então, há espaço para alocação em renda variável. Mas, por enquanto, não há tanto apetite assim. O risco lá fora e a taxa de juros alta são fatores que impactam. Os fundos só vão para uma alocação de mais risco quando houver ambiente mais propício.
Ainda segundo a Abrapp, os investimentos no exterior correspondem a apenas 0,7% da carteira dos fundos de pensão. P orlei, esse porcentual poderia chegara 10%. Por que essa participação não é maior?
Há muitas vantagens de investir no exterior, com mais produtos e mercados mais desenvolvidos. Mas nossa legislação acaba sendo mais restritiva. Alei que regulamenta os fundos de pensão determina que as fundações só pode malocarem fundos de gestoras internacionais que tenham mais de US$ 5 bilhões sob gestão, o que dificulta. Além disso, nunca muito atrativo para os fundos de pensão porque a renda fixa local sempre pagou a conta e bateu a meta atuarial. Quando começamos a ter uma taxa de juros mais baixa no Brasil, percebemos um certo movimento para produtos lá fora. As fundações se viram obrigadas a diversificar para buscar mais rentabilidade.
Quais estratégias vocês usam para convencer as fundações a aumentar a participação lá fora?
Estimular a educação financeira sobre produtos offshore é muito relevante. Temos provocado nosso parceiro de produtos offshore, que é o BTG Pactual, para trazer gestoras de fora e fazer um roadshow pelos fundos de pensão do Brasil, para que possamos levar mais conhecimento sobre esses produtos. Já há gestoras fazendo um esforço nesse sentido. Quando há essa entrada, aí é possível divulgar produtos, falar de estratégias que existem lá fora. Fizemos no fim de setembro duas rodadas com uma gestora internacional, a Pictet. O BTG traz a gestora, e levamos as fundações para dentro do BTG.
A ÍSOS calcula que hoje cerca de 70% dos investimentos dos fundos de pensão estejam concentrados em grandes gestoras. Quais os benefícios para esses fundos estar em contato com casas de menor porte?
O gestor é mais focado, de nicho. Normalmente, é alguém que já se provou em grandes casas e hoje tem a sua própria. Essa gestora consegue focar mais em uma menor quantidade de ativos e ser mais assertiva, o que pode trazer mais resultados. É diferente do bancão que, para minimizar o risco, vai diversificar mais.
O conflito no Oriente Médio pode se refletir na escolha dos investimentos por parte dos fundos de pensão?
Os fundos discutem, normalmente nesta época do ano, as políticas de investimento para os próximos anos. Mas o cenário externo não é o principal drive de tomada de decisão. O conflito impacta com o desconforto ou desconfiança dos ativos internacionais. Considerando que esse conflito ocorre em uma região produtora de petróleo, pode impactar no preço da gasolina e, com isso, há uma grande probabilidade de que a inflação se mantenha em níveis altos. Isso impacta diretamente a Selic. Além disso, se os juros nos EUA se mantiverem altos por mais tempo, os nossos também precisam estar, pois precisamos oferecer prêmio maior aqui para que o País seja atrativo aos investidores internacionais. Nossa missão é ter todos os tipos de produtos para acomodar a demanda da fundação.
Fonte: O Estado de S. Paulo
