O mercado de ações americano está bombando e caminha para fechar o seu segundo ano de forte alta. Além de surfar a onda dos investimentos em inteligência artificial, mais recentemente o mercado registrou duas semanas positivas após a eleição do novo presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump. Mas essa euforia começa a levantar dúvidas de analistas sobre até aonde o ciclo de alta do mercado pode chegar.
O banco Bernstein, em relatório recente, aponta que as avaliações das empresas americanas estão se aproximando de seus níveis mais altos em relação ao resto do mundo. Apesar de parecer merecido, considerando os aspectos de qualidade e crescimento, o banco conclui que essas avaliações estão um pouco altas demais, criando um potencial vento contrário para os EUA no futuro.
A visão é compartilhada por Martín Escobari, copresidente e chefe de capital de crescimento global da gestora de investimentos privados americana General Atlantic. Segundo o executivo, há uma mini bolha no mercado relacionada ao tema da inteligência artificial. “Há um excesso de otimismo. Contudo, é algo que tende a ser resolvido pelo próprio mercado. Quem investiu cedo na OpenAI está bem. Mas quem investiu quando a empresa já estava avaliada em US$ 150 bilhões, pode ter problemas”.
É algo que também pode machucar as empresas de capital aberto. Ele cita como exemplo a fabricante de chips e soluções para aplicações de inteligência artificial Nvidia. Apesar de pontuar que a companhia vem entregando ótimos resultados, acredita que possa enfrentar uma maior concorrência em um futuro próximo.
Feliz com Trump
Escobari está otimista com o novo presidente dos EUA. Ele cita que as desregulamentações que o republicano almeja realizar em diversos setores da economia deve liberar amarras para muitas indústrias e impulsionar fusões e aquisições, para as quais, na sua visão, existem hoje muitas restrições.
Contudo, relata que investidores mais precavidos estão pessimistas com uma provável guerra tarifária entre os Estados Unidos e a China. Mas é difícil saber em qual nível esse conflito deve chegar. O executivo acredita, por exemplo, que essas punições não devem se estender a outros países além da China, já que poderiam gerar tarifas contra os EUA, em reação.
No momento, a General Atlantic evita investimentos que dependam muito de subsídios governamentais, algo que, sob um novo mandato de Trump, deve diminuir. “A agenda de Trump é menos verde que a de Joe Biden. Mas não sei ao certo o quanto“.
Novos IPOs nos EUA em 2025
Nos últimos três anos e meio foi possível contar nos dedos a quantidade de empresas que abriram capital nas bolsas americanas. Elas não foram suficientes para acelerar a fila de empresas que estão para iniciar a listagem no país. Mas por que o mercado se fechou durante tanto tempo? Assim como no Brasil, os Estados Unidos errou fazendo IPOs de empresas pequenas, conclui Escobari.
Agora, essa janela deve reabrir em 2025, projeta o executivo. Existem hoje cerca de três mil empresas na fila para abrir capital em Nova York, um volume de US$ 800 bilhões. E, quando o mercado americano reabre, cerca de 18 meses depois o mercado de IPOs brasileiro costuma reabrir também. “Os investidores redescobrem o Brasil. É algo cíclico”.
Outras regiões
Metade do portfólio da General Atlantic está nos Estados Unidos, enquanto 25% dos investimentos está na Europa e 25% em países emergentes.
Entre os países emergentes, o executivo destaca a Índia. “Aplicamos no país há 23 anos, mas nos últimos quatro anos houve muita mudança no país. Houve uma consolidação do setor de telecomunicações e os impostos foram simplificados”.
Na Europa, Escobari prefere, no momento, empresas com ambições globais, pois o consumo interno do continente está fraco.
Há cinco anos, a gestora puxou o freio do investimento na China, ainda que acredite que a reativação da economia não seja um problema grave para a segunda maior economia do mundo. “Esperamos que em algum momento o mercado por lá se estabilize”.
Martín Escobari, copresidente da General Atlantic — Foto: Divulgação
Fonte: ValorInveste

