O diretor de assuntos internacionais e gestão de riscos corporativos do Banco Central (BC), Paulo Picchetti, afirmou que há “razões claras” para começar um ciclo de alta de juros no Brasil. O diretor está Washington, Estados Unidos, e participou de evento promovido pela XP investimentos.
Leia também: Expectativas de inflação perto do teto da meta são grande preocupação para o BC, diz diretor
Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros de 10,50% para 10,75% ao ano. Picchetti ressaltou que não há informação necessária para que o BC possa se comprometer com os próximos passos em termos de ritmo, a duração e o “orçamento” do ciclo.
“Escolhemos estar completamente dependentes de dados sobre os próximos passos com um claro compromisso de fazer o que é necessário em termos de política monetária para a inflação convergir para a meta.”
O diretor disse que os dados que o BC vai monitorar ao longo do tempo envolvem as expectativas e projeções de inflação, como será a evolução da atividade, as dinâmicas do mercado de trabalho e monitorar também os desenvolvimentos fiscais e impactos em demanda agregada e preço de ativos.
Ao falar sobre o mercado de trabalho, Picchetti ressaltou que a taxa de desemprego está em nível historicamente baixo. Segundo ele, os dados do mercado de trabalho continuam surpreendendo. “Isso ilustra muito claramente a dificuldade em termos de uma avaliação quantitativa e robusta da Nairu para a economia brasileira atualmente.” A Nairu é uma taxa de desemprego que não acerada nem desacelera a inflação.
Picchetti destacou que o desemprego tem caído ao mesmo tempo em que as taxas de participação têm subido. “Demissões têm subido mostrando que as pessoas têm pegado a oportunidade de sair do trabalho para assumir novas oportunidades.”
No evento, Picchetti também destacou que o mercado de crédito tem subido “fortemente” apesar da política monetária contracionista. O diretor destacou que a previsão para 2025 é de continuidade do crescimento em um ritmo mais lento.
Picchetti disse que, aparentemente, a explicação por trás do movimento está relacionada ao fato de que há um aumento no apetite de risco para concessões de crédito.
O diretor ressaltou também que o mercado de capitais está crescendo com diferentes instrumentos.
Questionado sobre o uso de medidas prudenciais, o diretor explicou que o mandato do órgão inclui também estabilidade financeira. “Medidas prudenciais futuras serão consideradas se houver sinais de problemas em termos de estabilidade financeira para bancos e instituições no mercado de crédito, mas até agora esse não tem sido nosso cenário.”
Durante a palestra, ele ressaltou que há uma mudança de regime na economia. Explicou que há efeitos de uma política monetária contracionista, uma desaceleração da atividade associada a uma desaceleração fiscal em termos de estímulo. “O regime que estou olhando é um que temos uma política monetária mais contracionista, um estímulo fiscal menos expansionista e de alguma forma atividade de nível mais baixo”, disse.
Tratando do tema fiscal, Picchetti ressaltou que se vê uma preocupação no mercado que se traduz em um prêmio ao longo da curva de juros.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/1/l/skTEUATwyyBnNT6geOlg/53498671253-428fd53fbf-o.jpg)
Fonte: Valor Econômico
