Por Maria Cristina Fernandes — De São Paulo
06/04/2022 05h00 Atualizado há uma hora
Depois do condomínio de interesses que se uniu e fracassou por Adriano Pires e Rodolfo Landim, a dupla Paulo Guedes e Joaquim Silva e Luna tem em mãos hoje os nomes mais cotados para os cargos de presidente da Petrobras e do conselho de administração.
Além do secretário especial de desburocratização, gestão e governo digital, Caio Mario Paes de Andrade, que já vinha sendo cultivado por Guedes antes de Pires e Landim entrarem no radar, dois diretores da Petrobras, Rafael Chaves (Relacionamento Institucional e Sustentabilidade) e Fernando Borges (Exploração e Produção) entraram na bolsa de apostas. Além de Guedes, eles contariam com apoio de Silva e Luna e teriam, sobre Paes de Andrade, a vantagem de poderem transitar mais rapidamente pelos crivos de governança da companhia, evitando que a assembleia de acionistas do dia 13 venha a ser adiada.
Se em Landim e Pires sobressaiu o conflito de interesses, o que salta aos olhos no perfil de Paes de Andrade é a falta de experiência e conhecimento na área. Há, pelo menos, dois itens da “Política de Indicação de Membros da Alta Administração do Conselho Fiscal”, que o secretário não preenche.
Entre os princípios listados na política de indicação está o “perfil compatível com a função a ser oferecida”. Outro item prevê que o Conselho deve buscar indicados com “conhecimentos específicos no setor de energia”. Nenhum dos itens é satisfeito pelo secretário.
Antes de assumir a secretaria, Paes de Andrade estava à frente do Serpro, empresa pública de tecnologia da informação. E antes de ingressar no governo dirigiu provedores de internet (PSTNET, Web Force Wentures e HPG), imobiliária (Maber) e empreendimentos do agronegócio. Durante a campanha de 2018 circulou nos meios empresariais bolsonaristas por intermédio de Meyer Nigri (Tecnisa).
Para seu ingresso no governo, porém, pesou sua proximidade com os publicitários que giram em torno do bolsonarismo. Em entrevista ao jornal “Propmark”, Sergio Lima, um dos profissionais cotados para assumir a campanha presidencial, diz que Paes de Andrade, é sua maior fonte de “inspiração”.
Com influenciadores digitais do bolsonarismo impedidos de monetizar seu conteúdo digital pelo TSE, o orçamento de R$ 138 milhões em publicidade da estatal (em 2021) ajudaria a neutralizar a imagem negativa de Bolsonaro junto à população que o responsabiliza pela alta dos combustíveis.
Já Rafael Chaves e Fernando Borges correm por fora, ou melhor, por dentro da Petrobras. Funcionário de carreira do BC e ex-executivo da Vale, Chaves chegou à estatal como gerente executivo de estratégia em 2019. Foi indicado por Guedes, mas caiu nas graças do general Silva e Luna. Ao recepcionar o presidente da República em 31 de janeiro deste ano, numa unidade da Petrobras em Itaboraí, Chaves fez um discurso que depois viraria um tuíte de Bolsonaro.
Dizendo que não poderia fazer um discurso político, Chaves afirmou que não poderia deixar de dar seu testemunho em relação à “corrupção e a má gestão” que foram instaladas na empresa na era do PT. Ele entrou três anos depois da gestão petista. Citou a devolução de recursos e a dívida de “mais de R$ 200 bilhões em dívidas” pagas pela empresa. Criticou a promessa de construção de refinarias pelo PT e elogiou as mudanças feitas por Bolsonaro: “Tenho que dar meu testemunho para que esse período de corrupção e má gestão nunca mais se repita. Estou conhecendo hoje o presidente Bolsonaro. E queria lhe agradecer por ter feito da direção da Petrobras uma direção técnica, que trabalha pelo bem do Brasil”.
Já Borges é um funcionário de carreira com 38 anos de Petrobras. Ocupa uma direção estratégica, tendo ocupado a gerência executiva do poço em Libra (Rio) e a direção da Associação Brasileira de Empresas de Exploração e Produção de Petróleo e Gás por indicação da estatal. Por ser funcionário de carreira, tem melhor trânsito na estatal que Chaves. Ambos chegaram aos respectivos cargos de direção na gestão Silva e Luna.
Fonte: Valor Econômico

