Gigante farmacêutica do empresário João Alves de Queiroz Filho está em negociação com rivais para uma possível combinação de seus negócios
Por Mônica Scaramuzzo e Maria Luíza Filgueiras — De São Paulo
06/07/2022 05h01 Atualizado há 3 horas
A Hypera, gigante farmacêutica do empresário João Alves de Queiroz Filho, conhecido como Júnior, está em negociação com rivais do mercado para uma possível combinação de seus negócios. A conversa, que começou com uma potencial aquisição da Hypera pela Eurofarma, agora avança rumo a uma incorporação pelo Grupo NC, dono da EMS, do empresário Carlos Sanchez, segundo fontes.
A Hypera é assessorada pelo Bank of America. Júnior contratou a BR Partners. Já a Eurofarma tem a assessoria do BTG Pactual, enquanto o grupo NC está com Itaú BBA e Safra.
Júnior tem 21,38% da companhia e, com a holding mexicana Maiorem, forma o grupo controlador da Hypera, com 36%. Eles têm acordo de acionistas, mas não há “poison pill” no estatuto da companhia. A Hypera vale em bolsa R$ 23,8 bilhões.
O grupo NC entrou na negociação para uma aquisição da Hypera, em que daria saída aos minoritários e tornaria Júnior e os mexicanos acionistas da companhia resultante. Mas Sanchez, segundo fontes, tem uma preocupação com o nível de alavancagem para uma operação desse formato, apesar de ter sinalização de crédito dos bancos.
Os rumores de um potencial M&A envolvendo a Hypera fizeram as ações subir meses atrás, o que tornava o negócio mais caro. Por isso, a NC começou a considerar uma outra operação, de incorporação. Sanchez se tornaria o controlador da companhia aberta e não teria que fazer uma oferta pública de aquisição aos demais acionistas.
As discussões ainda esbarravam em detalhes sobre governança. Júnior queria garantir assento no conselho e um acordo de acionistas, incluindo os mexicanos, ao que Sanchez tem resistido. “Não é tão trivial assim. Requer uma costura”, afirmou uma fonte familiarizada com o assunto.
Há quem duvide que Júnior esteja disposto a abrir mão do controle do negócio. Mas uma fonte garante que isso seria ponto pacificado. “O que ele quer é dar perenidade ao negócio, a um negócio que ele não tenha que tocar, concentrando as atividades no family office”, disse a fonte.
A Eurofarma tem menos interesse em ser uma empresa aberta neste momento, por isso tem mais resistência ao modelo de incorporação – mas não desistiu de brigar pelo negócio, afirmam fontes. Na discussão com a companhia, Júnior e os mexicanos também ficariam na empresa resultante.
Nas contas da Hypera, ela só fica atrás do grupo NC no varejo farmacêutico local, à frente de Eurofarma, Sanofi e Ache. Para envolvidos nas conversas, o caminho de Hypera com NC poderia provocar mais remédios do Cade, deixando alguns ativos para as demais concorrentes, enquanto a junção com Eurofarma teria menos pressão nesse sentido.
“A Hypera está conversando com todo mundo o tempo todo”, acrescentou a fonte a par do assunto. De acordo com essa pessoa, Júnior entende que para ser competitivo no setor farmacêutico é preciso ter escala e, por isso, “a consolidação é um caminho natural”. “Esse negócio está criando uma rusga entre Eurofarma e NC”, disse uma fonte.
Procuradas, as empresas negam. Em nota, a Hypera disse que “nega que tenha contratado banco para assessorá-la em processo de fusão e aquisição e que esteja conversando sobre fusão com empresas do setor.” Já a EMS nega qualquer tipo de negociação com a concorrente. A Eurofarma disse que “desconhece qualquer iniciativa de nossos competidores em fazer aliança”. Bancos, como de praxe, não comentam sobre potenciais transações ou clientes.
Uma das maiores farmacêuticas nacionais, a Hypera já tentou, há 10 anos, fazer uma fusão de seus negócios com o laboratório Aché, mas as conversas não avançaram. Nos últimos meses, Júnior também se aproximou do laboratório Biolab, além de Eurofarma e NC.
Há pouco mais de um mês, o empresário resolveu o principal obstáculo para atrair um sócio ou comprador, fechando um acordo de leniência por R$ 110 milhões.
O portfólio da companhia tem marcas como Buscopan, Benegrip e Engov e genéricos Neo Química.
Fonte: Valor Econômico