Por Laurence Fletcher — Financial Times
09/11/2022 05h02 Atualizado
Grandes fundos hedge estão abocanhando pechinchas em “junk bonds” (títulos de alto rendimento e elevado risco de calote) e outros segmentos do mercado de dívida corporativa, apostando que uma queda provocada pelas perspectivas econômicas globais ruins foi longe demais.
As dívidas corporativas foram duramente atingidas este ano por temores de que grandes aumentos nos custos dos empréstimos levariam a uma onda de defaults em grupos que se acostumaram a anos de dinheiro fácil. As taxas de juros para os tomadores considerados arriscados dispararam.
Mas vários gestores, incluindo Daniel Loeb, da Third Point, Paul Singer, da Elliott Management, e Sir Michael Hintze, da CQS, afirmam que partes do mercado de crédito caíram demais em relação aos riscos de default, e alguns começam a refazer suas posições.
“Achamos que a oportunidade estabelecida nesse momento no crédito de alto rendimento é interessante”, escreveu o bilionário operador Loeb em carta recente a investidores, referindo-se a empresas com classificação de crédito baixa. Ele aumentou as apostas em dívida corporativa e pretende ampliar a exposição na medida da aceleração da volatilidade, embora não antecipe uma “reocupação rápida”. E acrescentou: “Estamos vendo as oportunidades de investimento mais lucrativas em crédito estruturado desde a crise da covid”.
A Elliott, que recentemente alertou que o mundo pode estar caminhando para sua pior crise financeira desde a Segunda Guerra Mundial, disse a investidores que as oportunidades antes ausentes em dívida corporativa e títulos de empresas com dificuldades estão aumentando rapidamente, segundo documentos encaminhados a investidores aos quais o “Financial Time” teve acesso.
E Hintze, um dos nomes mais experientes em negociação de créditos de fundos hedge, disse que usou as quedas recentes nos preços dos títulos de dívida para comprar posições de crédito e cortar as proteções (hedge) de seu fundo contra a queda dos preços no setor.
Após grandes quedas nos preços de todas as grandes classes de ativos, “estamos favorecendo especialmente as oportunidades em crédito e nos mercados de crédito estruturado”, escreveu em carta a que o “Financial Times” teve acesso.
Os rendimentos dos títulos de dívida de empresas de crédito duvidoso (junk bonds), que sobem quando os preços caem, saltaram de 2,8% no começo de 2022 para 7,8%, segundo o índice Euro High-Yield da Ice Data Services. Naruhisa Nakagawa, fundador do fundo hedge Caygan Capital, que está apostando na alta dos preços dos bônus corporativos, disse que o aumento recente dos spreads, uma medida da percepção de risco de se manter dívida corporativa, versus o risco baixíssimo de se manter bônus soberanos, “dificilmente foi justificado pelos fundamentos, de modo que eu acho que houve um tipo de venda forçada”.
Na Europa, fundos de alto rendimento sofreram saques líquidos de € 12,7 bilhões este ano até o fim de outubro, igual a mais de 15% de seus ativos, segundo dados do J.P. Morgan, enquanto fundos com grau de investimento registraram saques de € 25,2 bilhões.
Muitos dos resgates vieram de ETFs (fundos negociados em bolsas de valores) passivos, que rastreiam índices amplos de bônus e que, desse modo, tiveram que vender uma ampla variedade de créditos quando os investidores partiram para a venda. Os ativos do iShares iBoxx $ High Yield Corporate Bond ETF, por exemplo, caíram mais de US$ 10 bilhões desde o fim de 2020, principalmente como resultado de saques.
No geral, os ETFs de alto rendimento dos EUA sofreram retiradas líquidas de US$ 17,1 bilhões nos primeiros nove meses do ano, segundo dados do grupo ETFGI.
“Os resgates estão levando à venda forçada, o que está levando à queda dos preços. É uma coisa que se autoalimenta”, diz o chefe de um fundo hedge europeu que vem adquirindo bônus recentemente. “Já está atraente, e provavelmente ficará ainda mais.”
A Altana Wealth, de Lee Robinson, escreveu a investidores dias atrás para declarar que “os bônus estão de volta”. Ele destacou uma série de oportunidades “muito atraentes” que incluem Carnival Corp e Jaguar Land Rover.
Uma pesquisa junto a investidores feita pelo BNP Paribas, que gerencia mais de US$ 380 bilhões em ativos totais de fundos hedge, constatou que eles planejam aumentar suas alocações em fundos de crédito em todas as regiões, com os fundos dos EUA sendo os mais populares.
Alguns especialistas do setor também afirmam que, embora os defaults – que estão próximos de patamares históricos de baixa – devam aumentar, eles não deverão chegar aos níveis vistos em crises anteriores. Nos títulos de alto rendimento europeus, a agência de classificação Standard & Poor’s (S&P) acredita que os defaults aumentarão do atual nível de 1,4% para 3% até a metade do ano que vem, ou 5% em um cenário mais pessimista, em comparação aos 9% de 2008. A Fitch espera 2,5% no ano que vem.
Nos EUA, a Fitch prevê que os defaults alcançarão 2,5% a 3,5% até o fim do ano que vem, e 3% a 4% em 2024. Isso se compara a uma média histórica de 21 anos de 3,8% e 5,2% durante a pandemia em 2020. A S&P prevê 3,5% até a metade do ano que vem.
“Os mercados estão precificando uma taxa de default de 40% em títulos de alto rendimento europeus nos próximos cinco anos. Já está tudo no preço”, diz Tatjana Greil-Castro, chefe adjunta de mercados abertos da Muzinich & Co.
Loeb, da Third Point, escreve que, mesmo que os spreads de crédito subissem acima dos níveis vistos em 2011 ou 2015, os investidores que compraram índice ainda assim ganhariam dinheiro em um ano por causa dos rendimentos oferecidos e do efeito dos preços dos bônus voltando ao par. “Esperamos um aumento dos defaults com a desaceleração da economia, mas não um que justifique esses spreads”, disse.
Fonte: Valor Econômico

