A lenta implementação dos estímulos prometidos pela China está aumentando as preocupações com o enfraquecimento da economia e alimentando um debate sobre até onde as autoridades irão para estimular o crescimento.
Os investidores esperavam que o Conselho de Estado, o governo chinês, anunciasse as novas medidas de apoio à economia após uma reunião na sexta-feira. As expectativas do mercado eram particularmente grandes após a decisão inesperada do banco central chinês, na semana passada, de cortar as taxas de juros, que muitos economistas interpretaram como um sinal de mudança para uma política monetária mais flexível.
Mas o Conselho de Estado não anunciou nenhuma ação específica, limitando-se a afirmar que o governo está estudando novas medidas que serão adotadas “em tempo hábil”. Além disso, o premiê Li Qiang, que preside o Conselho, está no exterior esta semana, sua primeira visita oficial para a Alemanha e a França, o que sugere que um anúncio de novas medidas de estímulo pode não ser iminente.
Alguns economistas ligados ao governo estão pedindo um apoio político mais rápido. “Não deveríamos hesitar em implementar políticas mais enérgicas onde elas são necessárias”, disse Yin Yanlin, ex-vice-diretor do escritório de política econômica do Partido Comunista, em um fórum na Universidade Tsinghua no fim de semana. Os ajustes de política deveriam ser feitos mais rapidamente, acrescentou, segundo uma transcrição de seus comentários.
Muitos economistas estão moderando suas expectativas para a economia chinesa, avaliando que qualquer apoio do Estado será limitado. O Goldman Sachs — que reduziu sua previsão de crescimento para a China para este ano de 6% para 5,4% — diz que Pequim está mais cautelosa por causa da menor demanda por moradias de uma população em declínio, níveis elevados de endividamento e apelo do presidente Xi Jinping para conter a especulação imobiliária.
Isso significa que qualquer pacote de estímulo será menor em alcance do que nas desacelerações anteriores, em que as autoridades aumentaram os investimentos em infraestrutura e imóveis para estimular o crescimento, disseram economistas do Goldman Sachs.
Os estímulos à infraestrutura e o setor imobiliário provavelmente serão “direcionados e moderados”, diz o relatório. “Seguir o mesmo velho caminho e usar os imóveis e a infraestrutura para engendrar uma forte recuperação econômica seria consistente com o tipo de ‘crescimento de alta qualidade’ que a liderança vem enfatizando repetidamente”, diz o relatório.
As ações chinesas caíram nesta segunda-feira (19), em parte devido ao desapontamento dos investidores com a declaração do Conselho de Estado — embora a notícia do encontro de Xi com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, tenha ajudado a melhorar o sentimento no fim do dia. O índice CSI 300 caiu 0,8% e o Hang Seng 0,6%.
O Conselho de Estado, que coordena a política entre os ministérios do governo central e o banco central, pediu políticas “mais enérgicas” para fortalecer a economia. Ele não divulgou um cronograma ou detalhes das medidas de apoio que estão sendo discutidas.
“A barreira para estímulos é mais alta, e quando há intervenção, a flexibilização é ‘gradual’ em vez de ‘inundar’ a economia”, diz Rory Green, economista da TS Lombard para a China. “Xi mantém sua pressão por um crescimento de mais qualidade e é improvável que mude sua posição agora — especialmente em relação ao setor imobiliário.”
Embora seja provável que haverá mais estímulos, a expectativa é de que estarão “muito alinhados com a abordagem de ajuste cíclico transversal que a China vem adotando nos últimos cinco anos ou mais”, acrescenta ele.
Vários grandes bancos rebaixaram suas previsões de crescimento para a China recentemente, após os dados econômicos fracos de maio. A Nomura Holdings prevê um crescimento de 5,1%, o UBS espera 5,2%, enquanto o Standard Chartered aposta em 5,4%.
Raymond Yeung, economista-chefe do Australia & New Zealand Banking Group para a Grande China, acredita que os governos locais acelerarão as vendas de bônus especiais, que são usados principalmente para financiar projetos de infraestrutura. As regiões administrativas também deverão flexibilizar mais as políticas para o setor imobiliário, segundo Yeung.
“Há uma necessidade premente de estimular o crescimento”, afirma ele. “Agora cabe aos ministérios, aos governos locais e às empresas estatais fazer o trabalho” de promover o crescimento.
O Goldman Sachs não espera que Pequim emita bônus soberanos especiais, afirmando que essa ferramenta foi usada apenas três vezes no passado, durante períodos particularmente difíceis, como quando a pandemia começou em 2020 e durante a crise financeira asiática em 1998.
Economistas também acham improvável que o governo lance outra rodada de urbanização de favelas como fez em 2015. Naquele período, o BC chinês injetou dinheiro no mercado imobiliário para pagar pela renovação urbana e também compensar as famílias cujas casas foram demolidas como parte do programa, o que resultou em um aumento das vendas e dos preços no mercado imobiliário.
Desta vez, o governo poderá acelerar a emissão de bônus especiais de governos locais e continuar flexibilizando as políticas para o setor imobiliário, como a redução dos requisitos de pagamentos iniciais, corte nos juros dos financiamentos imobiliários e a remoção de restrições de compra em cidades de primeira linha, segundo analistas do Goldman Sachs.
As autoridades chinesas também estão apoiando setores considerados novos impulsionadores do crescimento da economia, como a manufatura de ponta e veículos movidos a novas energias. O BC chinês deverá reduzir as taxas de juros novamente este ano e reduzir a relação dos depósitos compulsórios dos bancos, afirmam essas analistas.
Fonte: Valor Econômico

