A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda revisou para baixo a previsão de crescimento da economia brasileira em 2025, mas manteve um tom otimista sobre o controle da inflação e a trajetória das contas públicas. De acordo com o Boletim Macrofiscal, divulgado nesta quinta-feira, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 2,2% em 2025, contra os 2,3% previstos antes, enquanto a inflação oficial medida pelo IPCA deve cair de 4,8% para 4,6% no mesmo período.
A redução nas projeções reflete o ritmo mais lento da economia no segundo semestre, impactado pelos juros ainda altos e pelo menor ritmo de crédito e de expansão nos rendimentos do mercado de trabalho. Mesmo assim, o relatório aponta que o país segue crescendo e deve encerrar o ano de forma estável, com destaque para o agronegócio e setores ligados à exportação e tecnologia.
A Secretaria da Fazenda explica que a desaceleração da economia era esperada, já que os efeitos dos juros altos (a taxa Selic está em 15% ao ano) demoram para aparecer. Com crédito mais caro, as famílias e empresas gastam menos, o que reduz o ritmo da atividade.
“Essa desaceleração já era esperada, repercutindo efeitos defasados e cumulativos da política monetária restritiva em vigor. Na comparação trimestral, as concessões reais de crédito dessazonalizadas já apresentaram contração em setembro e, no mercado de trabalho, já se verifica redução da população ocupada e desaceleração no ritmo de expansão dos rendimentos, ainda que a taxa de desemprego tenha seguido em patamar historicamente baixo”, diz trecho do boletim.
Mesmo assim, o relatório aponta bons resultados em setores não cíclicos, como petróleo, gás e mineração, e uma safra agrícola revisada para cima. A produção de café, cana-de-açúcar, algodão e milho foi melhor que o previsto.
Por setor:
- Agropecuária: previsão de crescimento revisada de 8,3% para 9,5% em 2025;
- Indústria: ligeira queda, de 1,4% para 1,3%;
- Serviços: passou de 2,1% para 1,9%.
Para 2026, a expectativa de crescimento permanece em 2,4%, impulsionada pela expectativa de juros mais baixos e de novas políticas de crédito e habitação.
O cenário ainda aponta inflação acima do teto da meta em 2025, estimada em 4,6%.O centro da meta de inflação é de 3%, com faixa de tolerância entre 1,5% e 4,5%. Apesar de o índice projetado ainda ficar fora desse limite, o Ministério da Fazenda avalia que, caso a bandeira tarifária de energia seja verde em dezembro, a inflação pode ficar dentro da meta.
” Importante notar que essas previsões consideram bandeira tarifária amarela para a energia elétrica em dezembro. Se, contudo, a bandeira for verde, crescem as chances de inflação dentro do intervalo da meta ainda em 2025″, diz a SPE.
A previsão de déficit primário (diferença entre receitas e despesas, sem contar os juros da dívida) passou de R$ 69,9 bilhões para R$ 70,6 bilhões. O valor segue dentro da banda de tolerância da meta fiscal, que permite um déficit máximo de R$ 30,97 bilhões após ajustes.
A meta fiscal funciona como um “limite de tolerância” para o quanto o governo pode gastar a mais do que arrecada. Se o resultado ficar dentro desse limite, considera-se que o governo cumpriu a meta. Hoje, o déficit projetado com ajustes é de R$ 27,38 bilhões, o que significa que o Brasil está tecnicamente dentro da meta fiscal de 2025.
Ainda de acordo com os dados divulgados hoje, a dívida pública bruta — o total que o governo deve em relação ao PIB — deve fechar o ano em 79,5% do PIB, um pouco abaixo da estimativa anterior (79,7%).
Cenário global e exportações
No cenário internacional, o boletim aponta que o crescimento global deve desacelerar em 2026, em meio às incertezas geopolíticas e à guerra comercial entre Estados Unidos e China.
As exportações brasileiras para os EUA caíram cerca de 25% (US$ 2,5 bilhões) entre agosto e outubro, após a adoção de novas tarifas sobre produtos como petróleo e carne bovina. Mesmo assim, as vendas externas totais cresceram 6,4% no período, puxadas por aumentos nas exportações para China e Argentina.
O governo destaca o papel do Plano Brasil Soberano, que já liberou R$ 7,1 bilhões em crédito para empresas exportadoras — a maioria de pequeno e médio porte — para ajudar na diversificação de mercados e no capital de giro.
Contas em 2026
O déficit primário previsto para o próximo ano caiu de R$ 81,8 bilhões para R$ 75,4 bilhões, o que representa uma melhora de R$ 6,4 bilhões em relação à estimativa de setembro.
A dívida pública também deve crescer menos: passou de uma projeção de 83,8% para 83,7% do PIB. O Projeto de Lei Orçamentária de 2026 (PLOA 2026), enviado ao Congresso, estabelece uma meta de superávit primário de 0,25% do PIB, ou seja, o governo pretende arrecadar mais do que gasta no próximo ano.Mais recentePróximaApós tombo no resultado, Banco do Brasil só deve avaliar dividendos extraordinários no fim de 2026
Fonte: O Globo

