A Gol está negociando com empresas de leasing de aviões um caminho para reduzir o endividamento que hoje é de cerca de R$ 10 bilhões, metade do seu passivo total. Entre as opções sobre a mesa há entrada de capital, via “equity” ou emissão de dívida, e uma recuperação judicial nos Estados Unidos, onde empresas do setor conseguiram se reerguer após pedir proteção contra credores.
As ações da Gol fecharam o pregão de ontem com queda de 6%. A informação sobre a possibilidade de a companhia pedir recuperação judicial (RJ) nos EUA foi antecipada pela “Folha de S. Paulo”. O Valor confirmou que essa não é a primeira opção da Gol, mas é estudada.
A preferência é conseguir uma entrada de capital tendo em vista os riscos de confiança que uma RJ traz, por exemplo, na venda de passagens. Segundo fontes, as negociações envolvem apenas as empresas de leasing, mas as conversas entre as duas partes estão sendo bastante duras. Um dos argumentos é que sem avião, a empresa fecha e todos saem perdendo. Por outro lado, a Gol já negociou com esses credores na época da pandemia, quando não havia procura por voos, e há dúvidas se eles estão dispostos a renegociar e aceitar as novas condições diante de um cenário de maior demanda do mercado por aeronaves.
Felipe Bonsenso, advogado especializado em aviação do escritório Bonsenso Advogados, diz que a Gol tem um volume pequeno de credores, e que uma negativa de alguns deles já inviabiliza a reestruturação. A Gol iniciou esse processo em dezembro, com a contratação da Seabury, consultoria americana especializada na área de aviação.
A Azul também contratou a Seabury e cogitava pedir RJ nos EUA. Mas conseguiu renegociar seu passivo, com alongamento da dívida e entrada de capital – o que a Gol também busca. A Azul, cujo perfil da dívida e modelo operacional são distintos aos da Gol, fechou acordos equivalentes a cerca de 90% do seu passivo de arrendamento. As empresas de leasing recebem os pagamentos por meio de uma combinação de dívida de longo prazo e ações precificadas sobre um balanço patrimonial reestruturado.
Outro ponto é que a Gol já está alavancada. No terceiro trimestre, o endividamento era de R$ 20 bilhões, ou seja, quatro vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). O prejuízo ficou em R$ 1,3 bilhão, queda de 16% sobre um ano antes. O Ebitda, por sua vez, foi positivo em R$ 11,5 milhões, quase o dobro do terceiro trimestre de 2022.
Considerando que as negociações não avancem, o Chapter 11 (capítulo 11 da Lei de Falências americana, o equivalente à recuperação judicial brasileira), é visto por especialistas como o caminho mais viável para a Gol. “Caso um acordo não seja concluído, um processo de recuperação judicial parece inevitável”, diz trecho de relatório do Bradesco BBI.
“Nos Estados Unidos, há uma segurança jurídica. É um mercado muito mais avançado com várias empresas como American Airlines e Latam tendo conseguido se reestruturar. No Brasil, tivemos o caso da recuperação judicial da Avianca com idas e vindas na Justiça”, disse Bonsenso.
Segundo Francisco Satiro, advogado especializado em recuperação judicial e professor da USP, nos Estados Unidos há um mercado para “dívidas estressadas” muito maduro. Ele explica que lá é comum uma companhia pedir RJ já com um plano aprovado e financiamento contratado. “É um serviço caro, não ficam aguardando aprovação de plano de recuperação, assembleias e outras etapas. Ao dar entrada no Chapter 11, o processo já está adiantado. É muito rápido quando comparado ao Brasil”, disse Satiro.
Além de realizar voos internacionais, mesmo que em pequena escala, a Gol tem dívidas, cujos credores são estrangeiros, e também possui subsidiárias que foram os veículos financeiros para a captação de dívida. Por isso, a companhia aérea se enquadra nas regras da lei americana.
Procurada pelo Valor, a Gol informou que busca opções, como obter capital adicional, para financiar as operações.
Fonte: Valor Econômico

