Por Gabriela Ruddy e Rafael Rosas — Do Rio
13/09/2022 05h01 Atualizado há 3 horas
A Petrobras vai reduzir os preços médios de venda do gás liquefeito de petróleo (GLP), o “gás de cozinha”, de R$ 4,23 por quilo para R$ 4,03 por quilo nas refinarias às distribuidoras a partir de hoje. A redução equivale a um corte de 4,7%. De acordo com a companhia, a diminuição levará o botijão de 13 quilos, o mais usado em residências, um preço médio de R$ 52,34, numa queda de R$ 2,6. O anúncio, feito na tarde de ontem, foi o décimo corte nos combustíveis da estatal desde julho.
A última redução no GLP havia ocorrido em 9 de abril, quando a estatal também cortou os preços, em uma redução de 5,6%. Ainda assim, o preço do produto segue 4,4% acima do registrado no fim do ano passado.
A Petrobras disse, em nota, que o corte acompanha a evolução dos preços de referência e é coerente com a prática da companhia, que busca o equilíbrio com o mercado, mas sem o repasse da volatilidade conjuntural.
Segundo especialistas, havia expectativa no mercado de uma redução nos preços do GLP, por causa da queda nos preços internacionais do petróleo e gás nos últimos meses. “Não foi surpresa, o mercado internacional apresentava tendência de queda na prática”, afirma o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sérgio Bandeira de Mello.
Depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, o petróleo tipo Brent, principal referência internacional, chegou a ultrapassar a barreira dos US$ 130 por barril, em março. Ontem, no contrato para novembro, a cotação estava em US$ 94 por barril.
“No GLP, não havia uma movimentação desde abril, então é natural que agora fosse feito esse repasse, com o barril abaixo de US$ 100. Criou-se um hiato de cinco meses em que não houve troca no preço do gás de botijão. Esse novo movimento está alinhado com os últimos que foram feitos pela companhia, tanto na gasolina quanto no diesel”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
A expectativa é que a redução no GLP terá um efeito de aproximadamente 0,04 ponto percentual ao longo de 30 dias no IPCA, de acordo com o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), André Braz. O impacto no IPCA de setembro será de aproximadamente 0,02 ponto percentual, com outro 0,02 ponto percentual em outubro.
“Como o gás de botijão acumula uma gordura importante nos últimos meses, a queda [de hoje] ajuda, mas não resolve todos os problemas. É melhor acumular uma série de quedas para reduzir efeitos do passado. Mas para as famílias de baixa renda, qualquer redução de preço torna o valor do botijão menos opressor”, afirmou.
O presidente do Sindigás afirma que a demanda pelo botijão de 13 quilos, que corresponde a 70% das vendas no país, está reprimida neste ano. Em média, as vendas do botijão para uso residencial estão 4% abaixo do ano passado. Segundo ele, a retração está relacionada ao empobrecimento da população e ao fim do auxílio emergencial. Também há um impacto do relaxamento das restrições à mobilidade adotadas na pandemia, o que levou a um retorno da alimentação fora de casa e a uma redução na demanda pelo GLP doméstico.
“Não acredito que essa queda nos preços na refinaria possa impactar o perfil da demanda, o impacto no preço final é baixo e o GLP continua competitivo em relação a outras fontes. Nos últimos dois anos, o GLP subiu menos que o gás natural e a energia elétrica”, afirmou.
Para a analista do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Carla Ferreira, o movimento da Petrobras de redução nos preços não está descolado do mercado internacional. “Haveria espaço para reduzir ainda mais os preços, mas vamos precisar acompanhar a estratégia da Petrobras, principalmente considerando que há um elemento político forte neste ano, com as eleições”, disse.
Fonte: Valor Econômico

