Entre as 14 empresas que apresentaram proposta na COP27, estão Amaggi, Bunge, Cargill, JBS e Marfrig. Meta é reduzir emissões decorrentes de mudança do uso da terra.
Catorze das maiores empresas de agronegócio do mundo apresentaram ontem, na Conferência do Clima da ONU, a COP-27, no Egito, um plano para reduzir as emissões decorrentes de mudança do uso da terra em suas operações, o que inclui a eliminação do desmatamento de suas cadeias direta e indiretamente até 2025. Na COP passada, na Escócia, essas empresas haviam se comprometido a traçar esse caminho para os setores de óleo de palma, soja e pecuária, protegendo também os sistemas alimentares globais e os meios de subsistência dos produtores.
Batizado de Roadmap, o roteiro divulgado no Egito é encabeçado pelas seguintes empresas: ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, COFCO International, Golden Agri-resources, JBS, Louis Dreyfus Company, Marfrig, Musim Mas, Olam International, Olam Food Ingredients (OFI), Viterra e Wilmar International. De acordo com o relatório do IPCC, o painel climático da ONU, 23% das emissões de gases de efeito estufa estão ligadas a mudanças no uso do solo e atividades agropecuárias. A derrubada de florestas para dar lugar à pecuária impulsiona esse processo.
O roteiro propõe ações que se concentrem em áreas onde terão o maior impacto e descreve como as signatárias vão colaborar com outros atores, em especial governos, integrantes da cadeia de suprimentos e instituições financeiras. Isso inclui fortalecer políticas e incentivo a agricultores e pecuaristas para proteger recursos naturais.
Conforme a JBS, a empresa assumiu, em março de 2021, o compromisso de se tornar net zero até 2040, ou seja, de zerar o balanço líquido de emissões de gases estufa. Também como parte da meta, reforçou seu compromisso de eliminar o desmate ilegal de sua cadeia até 2025 em todos os biomas brasileiros em que atua. A companhia diz ainda monitorar seus mais de 80 mil fornecedores diretos de gado bovino, usando um sistema de imagens via satélite e as principais bases públicas de informação.
Os planos das empresas, segundo a apresentação feita em Sharm El Sheik, precisam ser monitoráveis e verificáveis por terceiros. O projeto prevê acompanhamento das metas nas COPS de 2023 e 2024. “Devemos enfrentar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, aumentar a produção global de alimentos para garantir a segurança alimentar”, afirmou Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS. “Para avançar da maneira mais rápida no Brasil, o setor deve se concentrar nas principais áreas e impulsionadores do desmatamento: a Amazônia e o desmatamento ilegal”, diz.
GADO. No setor da pecuária, o plano é uma estratégia contra o avanço das fronteiras agrícolas com o uso do gado. A derrubada da floresta, muitas vezes, é seguida da introdução do animal na área antes ocupada pela floresta. No Brasil, o desmate fez com o que o País tivesse em 2021 a maior alta nas emissões em 19 anos, segundo dados do Observatório do Clima, que reúne mais de 50 organizações da sociedade civil.
Além do despejo de gás carbônico na atmosfera, há as emissões de metano. O Brasil é o 5.º país no ranking de emissões mundiais desse gás, com 5,5% da poluição total, também segundo o observatório. Desse valor, 72% vêm da agropecuária. O maior vilão é a emissão resultante da fermentação entérica bovina, o “arroto do boi”.
Para o coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), Guarany Osório, as abordagens para corrigir rumos de empresas ou do setor público devem ser sistêmicas. Em relação ao plano apresentado pelas empresas, ambientalistas cobraram mais atenção ao metano. Para Osório, é preciso que as empresas pensem também, além do corte nas emissões, na remoção de carbono de atmosfera. A melhor forma de fazer isso, continua ele, é por meio do reflorestamento.
QUESTÃO FINANCEIRA. A redução no desmate é crucial para as empresas do setor. O que está em jogo é muito mais do que a mera reputação. No cenário do comércio exterior, começam a surgir para países como o Brasil reações que vão além de embaraços diplomáticos. Com taxas de desmate crescentes na gestão Jair Bolsonaro, reações econômicas começaram a preocupar, como as dificuldades de avançar no acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
Uma resolução aprovada em setembro pelo Parlamento Europeu sinaliza caminhos para vetar a entrada no mercado do bloco de produtos associados ao desmatamento, particularmente soja, carne bovina, óleo de palma, cacau e café. Uma segunda resolução ampliou a lista para incluir couro, chocolate e móveis. Essas medidas ainda precisam ser votadas e ratificadas pelos países-membros da União Europeia. Para especialistas, novas medidas desse tipo podem surgir em outros blocos econômicos. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

