/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/U/D/L7WkAVS7ANEFGhTo66wA/foto17fin-101-bolsa-c6.jpg)
A renovada expectativa por cortes de juros nos Estados Unidos, combinada com o arrefecimento dos ruídos locais e com os patamares de preços descontados das ações, fez investidores voltarem a olhar, ainda que de forma tímida, para papéis cíclicos domésticos e de menor capitalização na bolsa, com foco nos setores de construção civil, locadoras de automóveis, transportes e financeiro.
Durante o mês de julho, o Índice Small Caps (SMLL) sobe 6,60% até o fechamento de ontem, acima dos 4,20% de alta do Ibovespa. Em 2024, no entanto, o índice amplo recuava 3,78%, enquanto o SMLL, que não supera o Ibovespa em performance anual desde 2019, tinha perdas de 9,24%.
Nessa linha, e após tentativas fracassadas de rotação para teses domésticas durante o ano passado, agentes afirmam que a continuidade da dinâmica depende da materialização do ciclo de afrouxamento monetário nos EUA e, aqui, de medidas concretas do governo para reduzir as incertezas fiscais.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/W/T/uTAqOXQfaSz2d1XAyMVA/arte17fin-102-bolsa-c6.jpg)
Rafael Oliveira, gestor de renda variável da Kinea, opina que a recuperação recente da bolsa teve viés mais técnico, após movimento exagerado de venda. “A economia está bem, o câmbio estava controlado e os juros em tendência de queda. Ruídos externos e internos atrapalharam, mas a bolsa tem empresas que estão entregando bons resultados, não mudaram seus negócios e caíram mesmo assim”, diz.
Assim, após manter carteira mais dolarizada desde o início do ano e se beneficiar da alta de setores como o de frigoríficos, a gestora embolsou parte dos lucros e buscou teses domésticas, nos setores de locadoras de veículos, construtoras e transportes. “Vestuário, por outro lado, não gostamos, pois os resultados estão pressionados, o nível de competição externa está elevado e há baixa visibilidade do ponto de vista tributário.”
Oliveira acredita que o movimento positivo pode se estender, já que praticamente todos os setores da bolsa estão próximos das mínimas históricas. “Mas tem que peneirar, porque alguns papéis não vão voltar para o patamar de antes.” Já no cenário macro, diz que é preciso ver como Brasília vai responder à questão fiscal. “Os ruídos cresceram porque o governo ignorou problemas, agora precisa endereçar. E o ciclo de afrouxamento monetário lá fora também deve seguir impactando as decisões de fluxo para emergentes.”
O aprofundamento da dinâmica vista nos últimos dias depende da origem do fluxo que virá para a bolsa, opina Marcelo Nantes, gestor de renda variável do ASA. Caso investidores estrangeiros sigam liderando as compras, diz, empresas de maior capitalização avançam primeiro. Se os institucionais locais voltarem a comprar, teses domésticas podem ter destaque.
“Seguimos fortemente influenciados pelo noticiário americano e os dados de inflação recentes podem reforçar o fluxo estrangeiro no curto prazo, ainda mais em um cenário de câmbio desvalorizado, que diminui o risco para não residentes”, afirma. Até o dia 12 de julho, o investidor externo acumula aportes mensais de R$ 3,074 bilhões em recursos no segmento secundário (ações já listadas) da B3. O saldo anual, no entanto, ainda é negativo em R$ 37,04 bilhões.
Nantes acrescenta que “estava querendo ficar mais otimista com Brasil desde o fim do ano passado, diante de um cenário de atividade em expansão, inflação sob controle, oferta de crédito avançando e cortes de juros no radar, o que deveria ajudar os resultados das empresas”. Mas lembra que a bolsa ficou correlacionada com os Treasuries, ignorando o contexto interno, até o discurso do governo piorar.
“Como nosso viés era construtivo mas o cenário macro não ajudava, nosso posicionamento estava mais tímido e defensivo. No fim de junho, quando o governo suavizou o discurso, aumentamos o risco e nossa exposição às teses domésticas, já que há muitas empresas de boa qualidade e com múltiplos atrativos. Agora, precisamos conversar com as empresas e entender se há espaço para mais”, diz.
Segundo indicador técnico do Itaú BBA, que identifica zonas de sobrecompra (atualmente em 143 mil pontos) e sobrevenda do Ibovespa ao dividir o preço atual do índice pela média móvel dos últimos seis meses, o referencial se aproximou de território neutro após a recuperação recente.
Paulo Abreu, sócio e gestor da Mantaro Capital, defende que o salto recente “não foi nada” e que a bolsa ainda tem prêmio e vetores positivos de alta no médio prazo. “O estresse do mercado pareceu exagerado, continuamos com visão mais construtiva do que a média. A piora recente do câmbio acendeu um alerta e acreditamos que o governo está sensível a isso. O Brasil não vai ser potência, mas também não vai ser a terra arrasada que estava nos preços”, diz.
Com isso, a casa vem aumentando sua exposição à bolsa ao longo do trimestre, diante do recuo nos preços dos ativos, mas já com foco em teses domésticas. “Agora estamos com exposição máxima e 100% alocados no mercado brasileiro, com posições em setores como financeiro (grandes bancos e mercados de capitais), construção civil, locação de veículos.”
Fonte: Valor Econômico

