Por Juliana Schincariol e Adriana Cotias — Do Rio e de São Paulo
01/08/2022 05h02 Atualizado há 4 horas
O fluxo de recursos para a renda fixa e a demanda do investidor por fundos com a “pimenta” do crédito privado tem dado espaço para gestoras de recursos independentes diversificarem sua atuação. A Occam, casa conhecida pela gestão de multimercados e fundos de ações, vai estrear na área e convidou o ex-diretor do BNDES Petrônio Cançado para liderá-la. A RBR, que era 100% concentrada em estratégias do segmento imobiliário, incluindo fundo de “papel”, começa a construir uma vertical de infraestrutura, tendo atraído como sócio Raphael Barcellos, que até junho era vice-presidente da divisão de “project finance” do Santander.
Com Selic em 13,25% ao ano e podendo subir mais um degrau nesta semana, ter múltiplas linhas é uma questão que pesa na perenidade dos negócios. São justamente os fundos imobiliários, multimercados e de ações que mais têm sofrido com a fuga do investidor. Já os portfólios de crédito têm sido um dos refúgios para obter algum prêmio em relação aos títulos soberanos.
Cançado chega à Occam com a conclusão de sua quarentena, após sair do BNDES no mês de janeiro, onde foi diretor de crédito. A ida para a Occam também marca um reencontro com antigos parceiros, da época do BTG Pactual. No banco de investimento, Cançado atuou como analista, mesma função que o fundador da Occam, Carlos Eduardo Rocha, o Duda, ocupava.
“Temos praticamente uma página em branco para montar uma estratégia nova, começando com crédito e nos voltando para investimentos alternativos. Identificamos uma grande demanda do investidor por essa classe de ativos”, afirma Cançado. Segundo ele, há grandes oportunidades nos setores de infraestrutura, saneamento, energia elétrica e rodovias, por exemplo, e ainda falta a oferta de produtos mais sofisticados no mercado.
Além disso, várias empresas que são clientes da Occam têm projetos que precisam captar recursos. A ideia é fazer a ponte com potenciais investidores. “Há muitos instrumentos de crédito e há um mercado de garantias incipiente, mas que está evoluindo”, afirma Cançado.
Mudanças regulatórias em setores como o elétrico e de saneamento, e na lei de licitações aumentaram o interesse do estrangeiro, avalia o gestor. “Os investidores, pouco a pouco vão tendo interesse por crédito. Havia um universo limitado de produtos e pouca gente que sabia fazer isso.”
Os gestores da Occam dizem que a gama de produtos de crédito é grande e que esse é um “jogo de bilhões”, mas evitam estimar quanto a nova área pode contribuir para o crescimento da gestora. “O cenário ainda é de deterioração macroeconômica, com inflação e juros altos. Mas não somos ‘new kids on the block’ ”, afirma Duda, referindo-se à senioridade e resultados obtidos pela equipe da asset, que reúne cerca de R$ 13 bilhões e 100 mil cotistas.
O passo inicial será mais conservador, em busca de ativos com maior liquidez, enquanto o time aguarda um melhor momento para explorar créditos considerados mais arriscados.
Com cerca de R$ 7 bilhões sob gestão, na RBR o diagnóstico foi de que era hora de explorar uma nova vertical, após a asset colocar o pé no mercado internacional e construir todo um espectro de veículos no setor imobiliário, lá e cá – de incorporação a fundos listados e de crédito -, diz Guilherme Bueno, um dos sócios-fundadores.
“A gente começou a olhar para outras teses ligadas a ativos reais e vinha pensando em coisas mais próximas, como agro ou ativo florestal, mas viu na parte de infraestrutura um momento ímpar para o Brasil”, afirma Bueno, citando o marco do saneamento e outras regulamentações que trouxeram mais segurança jurídica para o setor.
Assim como foi na área de fundos imobiliários, a ideia é começar pelo básico, montando portfólios com mandato de crédito. “A casca do negócio é bem parecida e são os mesmos distribuidores, investidores, até os advogados [dos fundos imobiliários de papel]. É óbvio que o risco do ativo por trás da dívida é diferente, por isso precisava de um sócio com expertise de dez anos”, prossegue Bueno. No tempo, o plano é ter fundo de infraestrutura dedicado, que permita tanto o financiamento via dívida quanto participação no equity, e trilhar o caminho da listagem em bolsa.
Barcellos diz que todo cidadão sente a demanda latente por manutenção, expansão e modernização de obras voltadas para logística, mobilidade urbana, saneamento ou energia. “Nos últimos cinco anos, o Brasil investiu o equivalente a 1,7% em infraestrutura e só para recompor a depreciação precisaria de 4%, esta lacuna grande é notória.” Ele cita que atualmente a indústria de fundos imobiliários reúne quase R$ 200 bilhões, enquanto a de infraestrutura limita-se a R$ 50 bilhões e tem condições de se tornar tão relevante quanto para o mercado de capitais.
Diversificar a atuação da asset significa construir uma casa mais preparada para ser à prova do risco Brasil, afirma Bueno, a despeito de o setor imobiliário ter alguma correlação com o de infraestrutura. Foi a classe de “tijolo”, de fundos com imóveis na carteira, que mais sofreu na bolsa com a alta da Selic, enquanto os portfólios de crédito seguem atraindo o investidor. No primeiro semestre, a RBR captou R$ 800 milhões e para esta segunda metade do ano espera levantar valor equivalente, incluindo a vertical de crédito para financiar a infraestrutura.
“O crédito segue muito forte porque o funding para o setor secou, o custo de capital subiu e quem tem recursos para emprestar enxerga a oportunidade, com boas garantias e taxas interessantes para os cotistas”, afirma Bueno.
O fato de a RBR originar e estruturar crédito elimina uma série de custos na estrutura ao longo da cadeia, destaca Barcellos, e permite verticalizar a atuação em infraestrutura como já faz no imobiliário. “É possível partilhar um pedaço dos ganhos com o próprio emissor/tomador, o acionista do ativo investido e trazer parte do spread, a rentabilidade, para o cotista.” O executivo diz ter no radar projetos nos setores de geração de energia e concessões de portos, aeroportos e rodovias, com instrumentos como debêntures incentivadas ou estruturas de crédito estruturado.
Fonte: Valor Econômico
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