Por Adriana Cotias e Matheus Prado, Valor — São Paulo
30/01/2023 15h09 Atualizado há 18 horas
A Macro Capital, gestora de recursos fundada em 2019 por Nilson Teixeira e Mauro Bergstein, vai encerrar as suas atividades. A asset fechou 2022 com cerca de R$ 80 milhões sob seu guarda-chuva, volume considerado insuficiente para manter a estrutura robusta que marcou a operação e reter bons profissionais. A decisão vem após um ano em que os multimercados e fundos de ações apresentaram resgates expressivos, com a fuga do investidor para alternativas de renda fixa.
Segundo Teixeira, que antes da Macro Capital passou quase 20 anos no Credit Suisse, a performance nesse período deixou a desejar em relação ao que a casa tinha como meta. E as condições para captar recursos no mercado ficaram mais complexas em meio ao aumento do custo de oportunidade, com a Selic em 13,75% ao ano, e com a concorrência de gestoras com bilhões de reais sob o seu guarda-chuva.
“Quando a gente olha para frente, nosso cenário não é de um recuo importante, de forma rápida [dos juros], pelo contrário, tende a ficar estável nesse patamar por um período prolongado e isso faz com que aplicações de renda fixa, como LCI e LCA [letras de crédito imobiliário e do agronegócio, isentas de imposto de renda para a pessoa física] paguem até mais que o CDI, e a competitividade de um produto como o nosso fique menor.”
Do lado empresarial, o custo de oportunidade de manter os sócios também aumentou, dado o resultado mais comprimido, acrescenta Bergstein.
“Manter o business numa estrutura como a nossa e reter pessoas por um período mais prolongado se tornou um desafio”, diz. “E quando vai para o lado macro, com a Selic ficando nesse patamar por um tempo maior – a gente viu quase R$ 170 bilhões saindo de multimercados e renda variável no ano passado… como estamos há muito tempo no mercado, sabemos que é cíclico, mas pode demorar bem mais [para a Selic cair] dadas as incertezas com o novo governo. Junta tudo isso, é uma decisão difícil, mas foi tomada depois de muita reflexão.”
Teixeira afirma que uma solução poderia ser enxugar a estrutura. Em vez de trabalhar com três economistas, ficar com apenas um, ou reduzir o time operacional, de pesquisa de ações, mas a avaliação foi que isso contrariaria os princípios que nortearam a formação da Macro Capital quase quatro anos atrás. Bergstein diz que a recente diminuição dos ativos sob gestão também começava a impactar o custo do fundo para os investidores, e, consequentemente, a rentabilidade.
No pico, a asset chegou a ter cerca de R$ 200 milhões, volume que dentro da indústria é considerado baixo para remunerar uma equipe multiestratégia, com diferentes especialidades.
O multimercado Macro Capital One fechou 2022 com retorno de 5,28%, ante 12,4% do CDI, e desde a primeira cota, em setembro de 2019, acumulou 2,87%, em comparação a 22,63% do referencial. O Macro Equity Hedge perdeu 0,49% no ano passado e tinha perdas acumuladas de 1,81% desde que foi lançado, em novembro de 2021.
Os sócios já conversaram com as diversas contrapartes e clientes e o encerramento dos fundos vai se dar pela via tradicional, convocando os investidores para fazer o resgate de seus recursos, numa data a ser definida pelo administrador.
Bergstein conta que os sócios chegaram a cogitar a união com alguma outra gestora, mas por “questão de mérito ou do racional”, as conversas não foram adiante. Ao todo, a equipe contava com 18 pessoas.
Fonte: Valor Econômico

