Por Adriana Cotias, Valor — São Paulo
12/03/2024 10h09 Atualizado há 42 minutos
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O segmento de gestão de patrimônio encerrou 2023 com crescimento de 7,5%, para R$ 457,5 bilhões, variação inferior ao CDI do período, de 11,03%, e também um ritmo menor do que se observou nos seviços de private banking nos bancos, com incremento de 13,8%, para R$ 2,1 trilhões.
Segundo as estatísticas da Anbima, que representa o mercado de capitais e de investimentos, 146 gestoras de patrimônio independentes reportaram seus dados à entidade, de 105 existentes em dezembro de 2022. Os números englobam tanto casas que já atuavam e se tornaram aderentes aos códigos da autorregulação como de estruturas recém-criadas, subtraindo-se aquelas que deixaram o mercado.
Na distribuição dos volumes financeiros, a renda fixa liderava, com R$ 173,6 bilhões, um incremento de 8,0% em 12 meses, representando quase 38% do bolo, mas a renda variável apresentou uma taxa de crescimento muito superior, de 14,6%, para R$ 155,7 bilhões, com uma fatia de 34%.
As estatísticas, segundo o diretor da Anbima, Fernando Vallada, trazem efeito de revisões patrimoniais feitas após mudanças na tributação dos fundos fechados exclusivos ou reservados a poucos cotistas, acomodados em estruturas independentes.
No segundo semestre do ano passado, uma única instituição acrescentou quase R$ 24 bilhões aos dados do setor de gestão de patrimônio. Não fosse isso, haveria um crescimento de apenas 1,8% ao longo de 2023.
Representantes da entidade não citam nenhuma casa nominalmente, mas nos últimos meses de 2023, conforme reportado pelo Valor, movimentações feitas em carteiras do Opportunity já tinham mexido com os dados dos fundos de ações. Em outubro e novembro entraram R$ 21,6 bilhões em dois veículos, o SLQ FIA BDR, com dois cotistas, e o SLQ III FIA, com três investidores. Os portfólios investem principalmente em veículos da Opportunity HDF Administradora de Recursos, controlada por Dorio Ferman, o lendário gestor do Lógica.
Ao fazer um recorte na renda fixa, a Anbima traz que 57% do crescimento em 2023 veio de ativos com benefício fiscal para a pessoa física, com o maior incremento (90,8%) em letras de crédito imobiliário (LCI), para R$ 7,5 bilhões, seguido por debêntures incentivadas (78,5%), a R$ 8,8 bilhões. O total em títulos isentos aumentou 11% no ano passado, a R$ 39,4 bilhões.
Os fundos de renda fixa, com R$ 47,8 bilhões de patrimônio, tiveram um decréscimo de 0,4%, enquanto a posição em títulos públicos caiu 7,3%, para R$ 31,3 bilhões.
Em instrumentos híbridos, que inclui multimercados, fundos imobiliários e ETFs (fundos negociados em bolsa), houve um recuo de 0,5%, para R$ 115,5 bilhões.
No raio-X geográfico, Vallada chama a atenção para o crescimento dos volumes no Nordeste, de R$ 14,5 bilhões para R$ 36,4 bilhões entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023, enquanto o Sudeste teve um decréscimo de 1,8%, para R$ 361,7 bilhões. O total de clientes caiu em todas as regiões, com uma redução de 6,7 mil grupos familiares. Ajustes feitos por uma única instituição impactaram os números, segundo a Anbima.
Nos serviços de private banking, a entidade já tinha reportado um acréscimo de 4,6 mil, para 70,8 mil grupos econômicos.
Na fotografia por instrumento usado na gestão de patrimônio independente houve um recuo de 13%, com queda de 1,7% em fundos de investimentos e de 14,6% em carteiras administradas. Em volume financeiro, os fundos ganharam 6,1%, para R$ 313,2 bilhões, enquanto as carteiras tiveram incremento de 10,7%, a R$ 144,3 bilhões.
Após o arsenal tributário que começou com a taxação dos fundos fechados exclusivos e restritos com o come-cotas, o imposto semestral que já incide nos veículos condominiais de renda fixa, multimercados e cambiais, Vallada diz que tinham sido abertas algumas portas e outras se fecharam. O setor esperava usar a previdência como destino para parcela dos recursos de longo prazo de famílias órfãs com o fim do diferimento tributário, mas o governo também limitou essa estratégia ao vedar planos com patrimônio individual a partir de R$ 5 milhões. Houve ainda a limitação do lastro para emissões de ativos isentos de Imposto de Renda, como letras e certificados de crédito imobiliário e do agronegócio.
“Vai haver um redesenho da indústria, não dos players, mas dos instrumentos usados para implementar as estratégias dos clientes. 2024 é o primeiro ano da mudança, vai ser muita tentativa e erro, com algumas estruturas sendo desmontadas, outras montadas, é cedo para dizer”, afirma Vallada.
Dentro do planejamento, a expectativa é que carteiras administradas ganhem apelo para acessar os isentos, um movimento que pode aparecer com mais clareza após o pagamento do imposto que podia ser parcelado até março.
Vallada espera que com a queda de juros, operações de fusões e aquisições e ofertas públicas de ações tragam mais dinamismo para o setor. “Como interessado pelos negócios da indústria, eu rezo toda a noite para esse movimento de geração de riqueza que é muito importante para a gestão de patrimônio”, diz o executivo, que também é o principal executivo (CEO) do Julius Baer no Brasil.
Fonte: Valor Econômico

