Por Larissa Garcia — De Brasília
01/11/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
Com a taxa básica de juros (Selic) em patamar elevado, a 13,75% ao ano, os gastos com juros da dívida pública alcançaram R$ 592 bilhões no período acumulado em 12 meses até setembro, maior volume da série histórica do Banco Central (BC), iniciada em dezembro de 2001. Os dados foram divulgados pela autoridade monetária ontem.
O montante é 76,34% maior em relação a setembro do ano passado. Isso ocorre porque grande parte dos títulos emitidos pelo governo para se financiar é atrelada à Selic. Segundo estimativas da autoridade monetária, o aumento de 1 ponto percentual nos juros básicos, mantido por 12 meses, eleva a dívida bruta em R$ 36,5 bilhões e a líquida, que desconta os ativos do governo como as reservas internacionais, em R$ 38,1 bilhões.
Entre janeiro e setembro, os desembolsos com juros somaram R$ 435,57 bilhões, R$ 156,61 bilhões a mais que no mesmo período de 2021. “Esse aumento [no ano] tem dois efeitos principais, o aumento do estoque da dívida e a alta da taxa básica. Usamos Selic diária no cálculo, que passou de 2,52% [acumulado do ano até setembro] em 2021 para 8,91%, e esse aumento se reflete na conta de juros”, justificou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.
Em setembro, foram R$ 71,36 bilhões para pagamento de juros, o dobro do registrado em agosto. O salto, segundo Rocha, se deve a perdas da autoridade monetária com operações de swaps cambiais. “Quando o BC tem perdas [depreciação cambial], elas se somam e aumentam a conta de juros. Se tirássemos os swaps, os juros permaneceriam estáveis”, afirmou o técnico do Banco Central.
Foi registrada perda de R$ 24,7 bilhões com swaps em setembro e ganho de R$ 11,3 bilhões em agosto. Dessa forma, excluindo as operações, restariam R$ 46,7 bilhões e R$ 46,9 bilhões, respectivamente. “Setembro teve dois dias úteis a menos, então possivelmente tendência seria de crescimento da conta de juros, mas não dessa magnitude”, complementou Rocha.
No mês passado, contudo, a dívida bruta do país caiu em proporção do Produto Interno Bruto (PIB) de 77,5% em agosto para 77,1% em setembro, menor percentual desde maio de 2020, um dos meses mais críticos da pandemia de covid-19. Em termos nominais, o endividamento subiu de R$ 7,23 trilhões para R$ 7,26 trilhões no mês.
De acordo com a autoridade monetária, a variação mensal pode ser explicada principalmente por efeito do crescimento do PIB nominal, que contribuiu para reduzir a dívida em 0,7 ponto percentual e dos resgates líquidos de dívida, com 0,4 ponto para baixo. Por outro lado, os juros nominais apropriados puxaram o percentual 0,6 ponto para cima e do efeito da desvalorização cambial de 4,4% em setembro teve efeito altista de 0,2 ponto.
Já a dívida líquida teve ligeira alta mensal de 0,1 ponto percentual, para 58,3% do PIB, o que o BC considera estabilidade, totalizando R$ 5,49 trilhões. Nesse caso, o aumento se deu em virtude da apropriação de juros, que puxou a dívida 0,8 ponto percentual para cima, e pelo efeito da variação da cesta de moedas que compõem a dívida externa líquida, com alta de 0,5 ponto.
Em movimento oposto, a desvalorização cambial reduziu a dívida em 0,6 ponto, o crescimento do PIB nominal em 0,5 ponto e o superávit primário em 0,1 ponto. Como o Brasil é credor em moeda estrangeira, a alta do dólar tem efeito de reduzir a dívida líquida, por causa das reservas internacionais.
Pela metodologia do BC, o setor público consolidado fechou setembro com superávit primário de R$ 10,75 bilhões. Em 12 meses, o governo acumulou resultado positivo de R$ 181,36 bilhões, o equivalente a 1,93% PIB.
Já o déficit nominal, que incorpora os juros da dívida, caiu em relação ao mês anterior e ficou em R$ 60,62 bilhões em setembro. Em relação ao mesmo período do ano passado, entretanto, houve crescimento.
No período, o rombo era de R$ 42,02 bilhões. Em 12 meses até setembro, por sua vez, o déficit nominal alcançou R$ 410,637 bilhões, o equivalente a 4,36% do PIB, contra 4,20% em agosto.
Fonte: Valor Econômico
