Ecommerce lidera área locada no Estado e avança 316% em 3 anos, mas setor farmacêutico teve a maior crescimento nos últimos 12 meses
Por Ana Luiza Tieghi — De São Paulo
O estoque de condomínios logísticos de alto padrão cresceu quase 41% no Estado de São Paulo desde o fim de 2019, apontam dados da consultoria SiiLA. A área passou de 7,8 milhões de m2 para 10,97 milhões de m2 até o segundo trimestre deste ano.
A vacância não sofreu grandes alterações, o que mostra a força da demanda. Hoje em 10,2%, atingiu um mínimo de 9,2% no terceiro trimestre de 2020, afirma Giancarlo Nicastro, CEO da consultoria.
O setor que mais cresceu na locação foi o de comércio eletrônico, que ganhou terreno na pandemia. A área locada no Estado por empresas desse segmento, como as gigantes Amazon, Mercado Livre e Shein, aumentou 316% desde o segundo trimestre de 2020, para 1,49 milhão de m2.
“Essas empresas viram na pandemia a oportunidade de crescimento exponencial. Na dúvida, alugavam”, diz Nicastro. São também atraídas para galpões de alto padrão porque demandam eficiência logística, explica.
Essa taxa de crescimento foi maior durante o período mais forte da pandemia, mas continua acontecendo. No ano passado, houve alta de 27% na área ocupada por empresas de ecommerce.
No dia 30, Marcelo Galperin, um dos fundadores do Mercado Livre, disse que a empresa terá mais dois centros de distribuição no Brasil até 2024, totalizando dez CDs no país, conforme noticiou o Valor.
A SiiLA mostra também que o setor farmacêutico foi o segundo que mais aumentou a área locada no Estado desde 2020, em 222%, embora o espaço total seja muito menor do que o do ecommerce, com 309,3 mil m2 ao fim de junho. O avanço da ocupação pelo setor farmacêutico continuou forte nos últimos 12 meses, com alta de 57% na área ocupada. Quem mais locou foi o Grupo SC, de distribuição de medicamentos.
Para Nicastro, a adaptação das farmacêuticas às vendas online ajuda a explicar esse crescimento, assim como a redução do desemprego, que aumenta a propensão a gastar com remédios.
O segmento de veículos e peças ocupava, ao fim de junho, 647,9 mil m2 de galpões em São Paulo, alta de 88% desde 2020 e de 16% no último ano.
O aumento da procura por galpões de alto padrão por outros setores ajuda a balancear o crescimento mais lento do comércio virtual. “Tem equilíbrio de mercado, não fica só na mão do ecommerce”, afirma Simone Santos, fundadora da imobiliária SDS Properties, especializada em ativos de logística.
Mesmo assim, as empresas que constroem galpões pisaram no freio. Se em 2021 e 2022 foram entregues, ao todo, 2,3 milhões de m2 no Estado, 2023 deve ter no máximo 903 mil novos metros quadrados entregues. Com isso, a taxa paulista de vacância deve cair para 9,4% ou 9,5% até o fim do ano, segundo Nicastro.
A primeira fase do MBigucci Business Park Santo André, com 16 mil m2, foi uma das entregas deste ano, feita em agosto. Quando estiver concluído, o empreendimento da construtora MBigucci terá 64,9 mil m2 de área locável. É o terceiro projeto de logística da empresa, que tem o setor residencial como carro-chefe, mas que prospecta novas áreas para condomínios.
A primeira fase do projeto já foi locada, por empresas de eletrônicos, óleos lubrificantes, vestuário e autopeças, conta o diretor comercial Marcelo Bigucci. O aluguel custa, em média, R$ 29 por metro quadrado. O valor está em linha com o estimado pela SiiLA para o raio próximo da capital, de R$ 30. No Estado, a média está em R$ 24.
Esse valor subiu desde 2020, quando estava por volta de R$ 18, conta Nicastro, mas precisara subir mais para compensar a alta dos custo dos terrenos e das obras. “Ficamos em um patamar de R$ 18 a R$ 20 por quase 10 anos, ainda está defasado em relação a outros setores”, diz. Preços mais elevados incentivariam os construtores a fazerem mais galpões. Segundo ele, muitos têm terrenos, mas aguardam uma viabilidade maior.
Os fundos de investimento imobiliários (FIIs) podem ajudar nessa retomada. Com a expectativa de queda continuada da Selic, eles estão em busca de ativos.
Os FIIs costumam comprar condomínios já prontos e ocupados, o que funciona como reciclagem para as empresas produtoras, que conseguem caixa para investir em novos projetos. “Os FIIs são o grande funil de dinheiro da indústria como um todo”, afirma Nicastro.
A perspectiva de entrega menor de galpões deve ter reflexo positivo nos preços e tornar 2024 mais favorável aos proprietários das áreas, analisa Santos. Ela prevê ainda mais procura por projetos personalizados, os BTS (built to suit).
Fonte: Valor Econômico