O mercado de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) deve seguir ativo em 2026, mesmo com as eleições presidenciais, que prometem volatilidade alta. As projeções de especialistas vão de estabilidade a um pequeno aumento no volume de transações, em meio a uma visão construtiva, a partir da perspectiva de início do ciclo de corte de juros no Brasil, que deve contribuir para um cenário mais benigno para as empresas. Ainda assim, como a Selic deve seguir em dois dígitos no próximo ano, caindo no máximo para 12%, está previsto que muitas empresas continuem reciclando capital e buscando o mercado de M&A para aliviar a pressão em seu caixa e endividamento. Nesse grupo estão majoritariamente empresas do agronegócio e consumo e varejo.
“Juro a 15% é sanitizador” diz o responsável pelo Banco de Investimento do Bradesco, André Moor, em uma alusão ao efeito da Selic elevada nos vários argumentos que surgem à mesa de negociações e muitas vezes tornam longas as negociações entre as partes.
As transações em 2026 devem também se dividir em dois grupos. As empresas de médio porte tendem a predominar em número e se concentrarem especialmente entre participantes locais. Ao mesmo tempo, é esperado que grandes operações movimentem bilhões nos setores de mineração, energia, logística e todos os relacionados à infraestrutura, incluindo tecnologia. Em 2025, esses setores combinados responderam por 20% das transações anunciadas, de acordo com levantamento da Kroll Corporate Finance.
Neste segundo grupo, estarão os estrangeiros, reagindo ao novo cenário geopolítico e comercial global. Especificamente em tecnologia, a perspectiva é que mais negócios ocorram envolvendo infraestrutura. Os data centers estão no radar e muitas conversas vêm acontecendo, mas Moor observa que existe ainda uma discussão de valor e o fato de os investidores globais estarem olhando primeiramente para grandes negócios fora do Brasil.
“Estamos bem mais construtivos com 2026, independente do cenário político e de eleição”, disse o corresponsável pelo banco de investimento e chefe de Equity Capital do Bank of America (BofA), Bruno Saraiva. Ele menciona a perspectiva de queda de juros, que reduz o custo de capital das empresas para financiar projetos e negócios. Além disso, o fluxo estrangeiro para o Brasil deve prosseguir, ressalta ele. Um terceiro fator é a solidez dos negócios que já estão em discussão no momento, o pipeline, e que devem ser fechados em 2026.
Apetite estrangeiro
O responsável pelo Banco de Investimento do UBS-BB, Anderson Brito, afirma que do lado dos investidores estrangeiros, o apetite por ativos brasileiros é muito claro, sobretudo vindo da Europa e Ásia, os quais foram responsáveis por cerca de 70% dos negócios realizados em 2025. “O que estamos vendo nas conversas são os europeus muito focados em setores mais pesados, como energia, infraestrutura, saneamento, logística, agronegócio, buscando crescimento real e ativos com boa proteção inflacionária, enquanto os asiáticos, além dos setores tradicionais, mostram interesse crescente em infraestrutura digital e indústria de transformação ligada a cadeias globais”, afirma.
Brito está entre os que acreditam em um aumento nos volumes de transações de M&A em 2026. Para ele, variáveis como o ambiente de juro mais benigno no exterior, o fluxo de recursos que tem se deslocado aos mercados emergentes e o rebalanceamento do cenário geopolítico, devem se somar a uma reabertura do mercado brasileiro com a Selic entrando em ciclo de baixa.
O UBS trabalha com a expectativa de primeiro corte de juro em abril. “Isso ajuda a ancorar as curvas, reduz o custo de capital e melhora a disposição das companhias em olhar movimentos estratégicos maiores – sejam aquisições, fusões ou vendas de negócios não essenciais”, prevê o executivo.
Operações e bolsa são complementares
Brito afirma que um ponto importante é que a maior atividade em bolsa não concorre com as negociações de M&A, ao contrário, tende a complementar. “As empresas usam parte dos recursos de follow-ons (ofertas subsequentes de ações) para desalavancar, financiar consolidação setorial ou acelerar crescimento orgânico e inorgânico. Então, um mercado de ações mais aberto normalmente reforça, e não substitui o pipeline de fusões e aquisições”, acrescenta.
Moor, do Bradesco, diz que o cenário de taxa de juro alta e geopolítico intenso provocam muitas conversas de M&A e mostram um pipeline aquecido para 2026. Mas ele observa que não se espera uma retomada aos patamares recordes de negócios fechados em 2021, na esteira do pico de ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) do mesmo ano.
“A sensação é que haverá um crescimento, não tão relevante, com empresas buscando capital para reduzir dívida, reciclar ativos e capital, e estrangeiros entrando e saindo, em meio às mudanças no geopolítico”, diz. Moor destaca que a movimentação dos estrangeiros não está só na ponta compradora, mas também na vendedora, onde as necessidades de realocação de ativos ganhou importância seja pela volatilidade cambial ou pela nova dinâmica da economia global.
A venda pela farmacêutica francesa Sanofi de sua operação de genéricos Medley, em negócio de US$ 500 milhões comentado por todos do mercado de M&A desde o início de 2025, é um exemplo. As expectativas são de que o negócio seja concluído até o meio de 2026 e tem as brasileiras EMS e Cimed entre os grandes interessados.
Esta notícia foi publicada na Broadcast+ no dia 12/12/2025, às 18:04
A Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.
Para saber mais sobre a Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse.
Fonte: Estadão