Os fundos hedge reduziram de maneira drástica as apostas em ações e cortaram empréstimos nos bancos, conforme enfrentam dificuldades para lidar com a explosão de volatilidade desencadeada pela guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump.
Nas últimas semanas, uma forte onda de vendas de ações, provocada pelas preocupações com as tarifas de Trump, atingiu o setor de forma especialmente dura. O índice Hedge Industry VIP do Goldman Sachs, que acompanha os fundos, como o grupo de anúncios AppLovin, a fabricante de chips Broadcom e o grupo de energia Vistra, despencou 12,5% desde 19 de fevereiro – quando o S&P 500 atingiu uma máxima recorde -, em comparação com uma queda de 8,6% no índice blue-chip (das ações de primeira linha).
Por causa disso, as gestoras de fundos hedge reduziram agressivamente o tamanho das apostas alavancadas, já que tentam limitar perdas ao diminuir os valores que tomam emprestados de bancos para comprar ou apostar contra ações.
A redução em posições brutas – a combinação de apostas a favor e contra ações – dos fundos hedge na sexta-feira e na segunda-feira foi a maior em quatro anos, de acordo com o Goldman Sachs, e uma das maiores nos últimos 15 anos. “Há muito sofrimento lá fora”, disse um executivo de um grande fundo. “A única maneira de se defender no ambiente de hoje é cortar sua alavancagem.”
Um dos fundos que foram afetados durante a volatilidade é o Millennium, de Izzy Englander, que administra US$ 75 bilhões em ativos. O fundo perdeu 1,4% na semana passada até a quinta-feira, segundo uma fonte que teve acesso aos números, sendo que este ano já caíra 0,8% até o fim de fevereiro.
O fundo hedge Citadel, de Ken Griffin, que administra US$ 66 bilhões, teve queda de 0,3% este ano, até o fim de fevereiro. Já o fundo principal do Balyasny subiu 3,5%.
Millennium e Citadel não quiseram comentar o assunto.
A abordagem de vai e vem de Trump com relação às tarifas de parceiros comerciais dos EUA tem tumultuado os mercados, enquanto as medidas repressivas contra a imigração e os cortes no setor público levam a temores de que a inflação dispare e o crescimento do PIB desacelere. O Vix, o chamado indicador do medo de Wall Street, que mede as expectativas sobre as flutuações nos preços das ações, avançou para seu nível mais alto desde agosto do ano passado.
Três fontes que trabalham em diferentes fundos multiestratégias disseram que a redução nas posições foi a maior que tinham visto desde pelo menos o fim de 2018, quando os mercados passaram por uma forte onda de vendas.
Gestoras de fundos buscam limitar tamanho de perdas potenciais com apostas em ações
No mês passado, o presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, afirmou que reduções rápidas na alavancagem de fundos hedge por parte desses fundos podem levar o preço das ações a cair mais do que o que se poderia esperar de outra forma, “amplificando os movimentos do mercado”.
Executivos de fundos hedge dizem que o ambiente atual levou a um mercado mais volátil, no qual é mais difícil avaliar que ações terão um bom ou um mau desempenho no curto prazo.
“[Houve uma] mudança de paradigma, o que significa que ações diferentes vão liderar, os prêmios de avaliação mudarão”, explicou um executivo de fundo hedge multiestratégia.
As ações no índice do Goldman Sachs dos fundos hedge com posições vendidas líquidas mais populares começaram a ultrapassar as posições compradas mais populares, causando perdas para os gestores.
Os fundos de ações do tipo comprados e vendidos perderam, em média, quase 6% desde 18 de fevereiro, de acordo com dados do Goldman Sachs a que o “Financial Times” teve acesso. Em uma base contínua de 14 dias, isso marca a maior perda entre seu momento de pico e seu mínimo desde maio de 2022.
“Essas mudanças de política foram massivas e rápidas”, disse um executivo. “É um ambiente diferente hoje. Nunca vimos isso antes”. completou.
Fonte: Valor Econômico

