Por Costas Mourselas — Financial Times, de Londres
12/07/2023 05h02 Atualizado há 5 horas
Os fundos hedge reduziram suas apostas na alta do mercado de ações dos EUA ao menor nível em pelo menos uma década e se voltaram à Europa, em meio a preocupações quanto à resiliência do rali liderado por ações de tecnologia.
Dados de corretagem divulgados pelo Goldman Sachs mostram que os fundos hedge estão atribuindo o menor peso ao mercado de ações dos EUA desde que os registros começaram, em 2013, aumentando ao mesmo tempo suas apostas nas ações europeias para o maior nível já registrado.
Alison Savas, diretora de investimentos da Antipodes Partners, da Austrália, diz que o rali nos EUA, liderado por nomes como Nvidia, Apple e Amazon, deixou algumas ações parecendo valorizadas demais em relação ao seu potencial de ganhos.
“É difícil justificar os múltiplos de muitas dessas empresas de tecnologia dos EUA”, afirma Savas, cuja firma gerencia US$ 10 bilhões em ativos e alocou cerca de 30% de sua carteira para a Europa, mais do que a ponderação do índice local. “Concordamos que a Nvidia é uma grande empresa, mas como investidores de valor [‘value’], não conseguimos fazer esse múltiplo funcionar.”
“Estamos investindo em multinacionais mal precificadas [na Europa], cujos preços estão com descontos em relação a empresas similares de outros mercados como os EUA”, diz ela.
O índice Nasdaq Composite registrou seu melhor primeiro semestre de um ano em quatro décadas e acumula valorização de 31% no ano, enquanto o S&P 500 está com alta de cerca de 15%.
No entanto, com o Federal Reserve (Fed) devendo aumentar ainda mais as taxas de juros para tentar conter a inflação, o que muitos analistas acreditam que desencadeará uma desaceleração econômica, alguns gestores consideram que a recuperação do mercado poderá ser revertida em breve.
Enquanto isso, as ações europeias avançaram mais moderadamente, com o índice regional amplo Stoxx 600 apresentando alta de 5% e o FTSE 100 ficando no vermelho até agora no ano.
“Os fundos hedge começam a se posicionar para o risco de queda das ações nos EUA”, escreveu o analista Vincent Li, do Goldman Sachs, em uma nota recente a clientes.
Os fundos que procuram lucrar escolhendo vencedores e perdedores individuais vêm encontrando poucas oportunidades em um mercado em que um punhado de ações muito valorizadas vem impulsionando a maior parte dos ganhos, diz Samantha Rosenstock, chefe de análises de investimentos da Man FRM.
“Os gestores ‘long-short’ não veem muita dispersão entre as companhias”, afirma ela. “Por outro lado, na Europa, as avaliações estão menores e, por isso, mais atraentes.”
Entretanto, outros investidores estão posicionados de forma diferente. Por exemplo, dados sobre as opções de compra, um indicador do sentimento, mostram que os investidores não estão sendo particularmente atraídos pelo índice de ações blue-chips Euro Stoxx 50 da União Europeia.
Com os juros aumentando, “as ações que parecem baratas [‘value stocks’] deverão superar o desempenho das ações de empresas com grande potencial de crescimento [‘growth stocks’], o que geralmente é melhor para a Europa”, diz Ankit Gheedia, chefe de estratégia de ações e derivativos do BNP Paribas para a Europa. “Mas eu seria cauteloso para não vender totalmente as ações da Nasdaq e de tecnologia dos EUA.” Um executivo de um grande banco americano alerta contra as apostas no desempenho superior da Europa, apontando que a economia dos EUA até agora se mostrou resiliente, apesar do aumento dos juros.
“A maioria das pessoas esperava uma recessão e achava que as avaliações nos EUA estavam além da realidade”, diz. “Mas então o mercado de ações subiu cerca de 10% nos últimos dois meses.”
Fonte: FT / Valor Econômico
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